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segunda-feira, 21 de julho de 2008



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VIVA LA VIDA EM TOM PASTEL

Depois de percorrerem o mundo, lotarem estádios e embolsarem muito dinheiro, eles se reclusaram, compuseram novo material e lançaram a maior bomba de 2008. Definitivamente a banda Coldplay está configurada como uma banda de um disco só, o primeiro, e algumas faixas esporádicas. “Viva La Vida Or Death and All His Friends ”, segundo o vocalista Chris Martim, faz referência a uma frase de Frida Khalo, que ele achou o “máximo”.

Para esse novo cd, que já vendeu mais de um milhão de cópias, eles convocaram um dos maiores magos da produção do universo pop, Brian Eno, que começou a construir a sua reputação quando ainda era integrante da lendária banda Roxy Music, na década de 70. De lá para cá, Eno tem assinado a sua grife de produção, com o respaldo de parcerias de peso, como Robert Fripp, David Bowie, Carla Blay, John Zorn, entre inúmeros outros, inclusive U2, a matriz sonora do Coldplay.

Eno domina velhas e novas tecnologias, é músico, compositor e arranjador. Mas nada disso adiantou, a estética sonora é a mesma dos tempos de Ken Nelson, em A Rush of Blood to The Head, e em “X&Y”, que é produzido em sua maioria por Danton Supple e algumas faixas por Ken Nelson. Até parece que Eno compareceu apenas com o nome e deixou a sua reputação no hall de entrada do estúdio.

Em “Viva La Vida” o Coldplay não tenta se livrar de forma nenhuma da sombra sonora do U2. Muito pelo contrário, faz questão mesmo de imitar, tal qual uma banda cover. Ao longo de um interminável repertório, a banda desfila o que parece ser uma única composição, com uma mesma melodia e com os mesmos truques vocais. São faixas que não conseguem ser tristes e nem melancólicas, apenas letárgicas. É comum você encontrar nos encartes dos discos da banda, agradecimentos pela compra, pela audição e pela paciência. Nesse deveria vir um pedido formal de desculpas pela completa falta de criatividade.

O som de “Viva La Vida” parece ter vindo diretamente da merdologia dos anos 80, a pior década da produção pop, em que poucas coisas se salvam. “Viva La Vida” é um meio termo entre o pior do Marillion, se é que existe algo bom deles, e uma mistureba de Simple Minds e U2. Acho que Eno chegou antes do que qualquer um dos membros da banda, e gravou uma cama sonora cheia de delays e reverbs digitais, aprontou toda a sua parafernália de processamento digital e esperou a banda.

Até palma tem delay e reverb nesse disco. Existe um exagero de ambiências inexplicável. A bateria foi plastificada em processamentos digitais, aliás, captar baterias nunca foi o forte de Eno. A guitarra é uma chatice pobre de delays, a milhões de distância do leque de timbres de um Jack White, por exemplo. Os teclados eu vou resumir em uma única palavra: merda. Os vocais foram gravados em destaque, anunciando aí uma breve separação.

Alguém precisa dizer para o Coldplay que clima musical não é uma questão de efeitos como chorus, flange, delay, phase e reverb, muitos menos compressores e seqüenciadores; é uma questão de dinâmica, domínio dos tempos musicais, dos andamentos e a da instrumentação. É só pegar qualquer disco de Nick Cave, Tom Waits, Joni Mitchel, Van der Graff ou King Crimson e aprender.

Para os fãs, nada do que foi dito aqui faz diferença. Também não importa. Para quem está de fora, no entanto, esse é um disco completamente descartável. Não existe destaque nenhum nesse disco. Quem conseguir ouvir esse disco de uma sentada só pode ser considerado um ex-combatente do golfo pérsico, cheio de seqüelas auditivas e mentais. Essa é uma bomba com mecanismos sofisticados. Para completar a banda Creaky Boards acusa Chris Martin de ter usado a música “The Songs I Didn’t Write” para fazer a faixa “Viva La Vida”.

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