Total de visualizações de página

sábado, 14 de julho de 2012





50 anos de Rolling Stones


Não é nada em especial, nada apoteótico. Apenas escrevo sobre três discos de uma banda que eu gosto demais. Já escrevi anteriormente nesse blog sobre “Exile on main st.”, um álbum fora de série. Agora levo em consideração outros discos que também considero geniais. Não é comemoração de porra nenhuma, é apenas rock’n’roll, e eu estou nessa de com força.





IT’S ONLY ROCK’N’ROLL

Esse é um disco de transição, em vários sentidos. Tem muito mais pegada do que os anteriores, marca a saída de Mick Taylor e a eminente entrada de Ron Wood, como também é o primeiro em que The Glimmer Twins assinam a produção. Muda a sonoridade, muda a pegada, o texto fica mais festivo, mas a ironia, o deboche e o sarcasmo continuam.

Reza a lenda que a ideia inicial era gravar um disco apenas com covers da música negra americana, que havia despertado o interesse da dupla dinâmica, inclusive influenciando o disco anterior, o famoso “Sopa de cabeça de bode”. No entanto, um novo material foi escrito e restou apenas a versão de “Ain’t too proud to beg”, sucesso dos Temptations, que recebeu uma interpretação próxima da original, mas muito mais pesada, verdadeiramente roqueira.

Das outras nove faixas autorais existe uma certa polêmica sobre “Time waits for no one”. Mick Taylor afirma ser co-autor dessa faixa, mas no disco foi creditada apenas a Jagger e Richards. Há quem afirme que esse foi um dos motivos para Mick ter saído da banda, pois não era a primeira vez que isso acontecia. Como também há quem afirme que isso aconteceu com Brian Jones e acontece frequentemente com Ron Wood. Outra peculiaridade é que a faixa que dá título ao disco vinha sendo trabalhada por Mick Jagger e David Bowie, mas foi gravada na casa de Ron Wood e creditada na capa do disco como tendo sido inspirada por ele.



Com a produção própria, depois de várias produções em parceria com Jimmy Miller, os metais foram deixados de lado, os pianos foram mantidos, a bateria ganhou mais destaque e a voz de Jagger ficou mais próxima da base, para formar a massa sonora que caracterizaria o som dos Stones daí por diante. Também é relevante o controle sobre os solos, fato que sempre incomodou Keith Richards, que revelou em sua autobiografia “Vida”, alegando que o grande barato dos Stones sempre foi não haver distinção entre guitarra solo e base.

Para Richards Mick Taylor não se encaixava na banda por ter essa característica de ser um guitarrista solo, e também pelo fato de não se envolver no estilo de vida dos Stones: sexo, drogas e rock’n’roll. Acontece que os discos em que Mick Taylor participa estão entre os melhores de toda uma geração roqueira. Antes dele a banda era reputada pelas atitudes rebeldes e pelo discurso inflamado, nunca pela musicalidade.

Vale ressaltar também que em sua biografia Keith Richards também reclama da presença virtuosa de Billy Preston, afirmando que por muitas vezes a banda era obrigada a seguir uma linha determinada pelos teclados de Billy, pela sua qualidade musical, mas que na realidade aquilo fugia ao estilo roqueiro dos Stones. A verdade é que se trata visivelmente de uma briga de egos, tanto é que, há um bom tempo, Jagger e Richards mal se falam.




“It’s Only Rock’n’Roll” é um disco que Richards se refere muito pouco em sua biografia. A crítica também não é unânime e nem os fãs. Distante dessas polêmicas menores e sob o olhar e a audição de quem gosta de rock, esse disco é pedra, tem presença garantida na discoteca de quem saca do assunto. Esse é um disco visceral, urgente, com unidade, mesmo que gravado aos pedaços, como a maioria dos discos dos Stones.

“If you can’t rock me” abre o disco na mais perfeita tradução do universo stoneano: riffs certeiros, balanço, malícia e sarcasmo. Pra ouvir no talo, faça as paredes da sua casa balançar. Destaque para o baixo de Bill. “Ain’t too proud to beg”, foi lançada como single e tem o destaque para o clavinete de Billy Preston, que dá um toque especial a esse r&b.

Logo em seguida vem a faixa título, que tem a base da banda de Ron Wood, que estava gravando o seu primeiro disco solo, paralelo ao Faces: Kenney Jones, bateria; Willie Weeks, no baixo; Ronnie Wood, no violão de doze cordas e vocais. A faixa conta ainda com os vocais adicionais de David Bowie. (Será que existiu de fato um caso entre Jagger e Bowie? Quem se importa?). Essa faixa é simplesmente obrigatória.





"Till the Next Goodbye" é uma das grandes baladas desse disco e do repertório dos Stones, com destaque para o slide de Taylor, técnica que Richards nunca dominou. Logo em seguida vem uma das músicas mais bonitas dos Stones, a super balada . "Time Waits for No One" , um clássico de todos os tempos, climática, etérea e profética. Mick Taylor mostra todo o seu talento em um solo memorável. Assim fica fácil compreender o ciúme de Richards.

"Luxury" abre o lado dois do vinil e é outra faixa que traduz perfeitamente o universo stoneano. Outro clássico. Também para ser ouvido no talo. Logo em seguida vem o petardo, a cacetada chamada "Dance Little Sister", a mais feroz do disco, com pegada animal, para estourar seus alto-falantes, essa é aquela música ideal para você ouvir antes de ir pra qualquer balada, acende qualquer brochada. Já "If You Really Want to Be My Friend" é uma balada pra mergulhar na solidão.

"Short and Curlies" remete às raízes dos Stones, quando eles faziam covers de blues americanos. "Fingerprint File" encerra o disco de forma emblemática. Eis aqui a sonoridade do disco posterior: “Black and Blue”. Vários sintetizadores foram utilizados nessa faixa e o seu discurso revela a realidade de Keith Richards, mergulhado em drogas e problemas com a polícia. A paranóia de receber a visita dos policiais era a realidade corrente de Richards, que havia passado pelo constrangimento de ir a júri, em 1973, com 26 acusações. Absolvido, mas absorvido.







SOME GIRLS

“Eu nunca tive problemas com drogas, tive com a polícia”, certa vez vaticinou cinicamente para a história Keith Richards. Pouco antes das gravações de Some Girls ele foi preso no Canadá, portando 28 gramas de heroína, sob a acusação de tráfico, com chances reais de ir pra cadeia. A sombra dessa consequência pairou sobre as gravações dessa obra prima.

Já em Toronto o guitarrista foi obrigado a passar por um longo processo de desintoxicação, além de conviver por um bom período à espera de uma notícia trágica de prisão e dissolução da banda por sua causa. Em sua biografia ele afirmou que essa foi uma das principais razões para tornar Some Girls tão visceral, com tanto fôlego, com a urgência de fazer rápido e pra sempre.

Esse disco é especial por vários motivos, mas o principal deles é que ele é capaz de traduzir a banda por inteira: rock’n’roll na veia, puro e simplesmente. O disco inteiro é focado na banda e a sonoridade se restringe e gira em volta dos cinco caras, agora, pela primeira vez, Ron Wood é membro. Essa é a sonoridade que marcará para sempre os Stones, bateria na cara, voz entre os instrumentos e guitarras misturadas.




Keith Richards tributa boa parte da mágica desse disco ao pedal de guitarra Carbon Copy, da MXR, que ele usou praticamente em todas as faixas. O famoso Phaser 90, da MXR, também foi utilizado bastante no disco. De acordo com Richards, todo o material do disco foi composto nos estúdios Pathé Marconi, em um subúrbio de Paris e grande parte da sonoridade se deve ao engenheiro Chris Kimsey, que trabalhou com eles pela primeira vez nesse disco e em mais oito discos.

Some Girls foi sucesso de venda e crítica, também gerando várias polêmicas, bem ao estilo de vida dos Stones. A capa original trazia fotos de mulheres famosas que não gostaram nem um pouco de ter suas imagens atreladas a uma letra, no mínimo, sarcástica sobre os valores, intenções e comportamentos das mulheres, na visão de Mick Jagger. No vinil a capa era bem engenhosa, era vazada e o encarte formava várias possibilidades de visualização.

“Miss you” abre o disco de forma fenomenal, simpática, dançante e eterna. Com uma certa influência disco e ligeiramente rap. É possível perceber a guitarra de Keith envenenada com o pedal Carbon Copy. Essa faixa é histórica, é clássica e despojadamente anos setenta até o osso. “When the whip comes down” tem uma letra que aborda a história parcial de uma bicha, que vive esse conflito da aceitação, muda de cidade e passa a coletar lixo. Fortemente influenciada pela sonoridade e discurso punk. É rock puro. Paulada.




“Just my imagination (running away whit me)” é mais um cover do The Temptations, com arranjo bem diferente da versão original. Continua sendo uma balada, mas bem mais acelerada. “Some girls”, a faixa título, é um dos maiores clássicos dos Stones, com letra verdadeiramente punk. Essa é mais uma das baladas, no entanto, nada romântica. É imperdivelmente canastrona, de um cinismo extremamente sofisticado. Segue a linha de Under may Thumb e Brown Sugar.

“Lies” é rock’n’roll puro: guitarras no talo, com solos bem anos 50. Essa é pra dançar, se espernear e perturbar toda a vizinhança, no volume máximo. “Far away eyes” é a faixa de abertura do lado dois no vinil. É um country, é uma faixa estradeira, em que Jagger brinca com o sotaque do sul dos Estados Unidos. “Respectable” é outro rock’n’roll pra ser ouvido fritando o amplificador, do caralho. “Before they make me run”, essa é uma canção autobiográfica de Richards e trata, entre outras coisas, da sua prisão em Toronto e da morte do seu amigo Graham Parsons, por overdose.

“Beast of burden” é uma das lendárias baladas dos Stones. Pode ser mais uma canção de amor ou pode ser um desabafo de Keith Richards em relação ao seu tempo de entrega ao trabalho, depois de largar as drogas, pela milésima vez. “Shatered” é outro super clássico dos Stones, verdadeira relíquia do rock. Trata da vida em Nova York nos anos 70. A quem afirme ser uma música punk ou ser o embrião do rap. Seu discurso é afiado e a sonoridade é massa demais.



Some Girls

Algumas garotas me dão dinheiro, algumas meninas me compram roupas
Algumas garotas me dão jóias, que eu nunca pensei que seriam minhas
Algumas garotas me dão diamantes, algumas meninas, ataques cardíacos
Algumas garotas me dão pão a todos os meus, eu não quero voltar nunca

Algumas meninas me dão jóias, outras me compram roupas
Algumas meninas me dão filhos, eu nunca pedi por eles.
Então me dê todo seu dinheiro, me dê todo o seu ouro
Vou-lhe comprar uma casa em Baker Street, e dar-lhe metade do que eu tenho

Algumas garotas pegam o meu dinheiro, algumas meninas tomam minhas roupas
Algumas garotas pegam minha camisa pelas costas, e deixar-me com uma dose letal
Garotas francesas querem Cartier, garotas italianas querem carros
garotas americanas querem tudo no mundo que você pode imaginar
garotas inglesas são tão frescas, não posso falar ao telefone
Às vezes eu tiro o receptor fora do gancho, eu não quero que elas me liguem pra tudo

Garotas brancas são bem engraçadas, às vezes elas me levam á loucura
garotas negras só querem foder a noite toda, eu só não tenho muitas horas
garotas chinesas são tão gentis, elas são realmente provocantes
Você nunca sabe bem o que elas estão escondendo dentro dessas sedosas mangas
Dá-me todo o dinheiro, me dê todo o seu ouro
Vou-lhe comprar uma casa em Baker Street, e dar-lhe metade do que eu tenho

Algumas meninas são tão puras, algumas meninas tão corruptas
Algumas meninas me dão filhos, eu só fiz amor com ela uma vez!
Me dê seu dinheiro, me dê metade do seu carro
Me dê metade de tudo, eu vou fazer você a maior do mundo
Então me dê todo seu dinheiro, me dê todo o seu ouro
Vamos voltar para a praia de Zuma, vou dar-lhe metade de tudo o que eu tenho





A BIGGER BANG


Até agora esse é o último disco de estúdio dos Rolling Stones, lançado oito anos depois da então última obra, “Bridges to Babylon”. No meu entender esse é o maior disco da história dos Stones. É como se eles fizessem uma espécie de balanço dos melhores aspectos musicais que nortearam a banda em 50 anos de existência. O que mais funcionou nos Stones está nesse disco. Uma verdadeira obra prima.

Como sempre, as gravações foram cercadas de ciscunstâncias especiais: Charlie Watts lutando contra um câncer, Ron Wood abalado com o suicídio da sua ex-mulher, e Jagger e Richards já sem quase nenhuma amizade para celebrar. O disco foi gravado na França, com o auxílio de Don Was na produção e praticamente só os músicos da banda, dessa vez com a participação de Darryl Jones no baixo.

Em vinil o disco saiu como sendo duplo e capa bem mais destacada, mesmo assim está entre as piores já lançadas pela banda. Em cd é impossível ler qualquer informação sem que você precise de uma lupa. Esse é o único defeito do disco. O resto é material de alta qualidade, provando que a banda ficou mais experiente, nunca envelhecida. Rock, blues e apelo pop, os ingredientes de sempre, em doses concentradas, e mais as baladas.



No final de 1984, depois de ter ido para a balada com Keith Richards, uma espécie de reconciliação, Mick Jagger, da casa de Keith Richards, ligou para a casa de Charlie Watts, cinco horas da manhã, perguntando: “cadê o meu baterista”? Isso lhe rendeu um tremendo soco na cara, poucos minutos depois, seguido da ameaça e recomendação de nunca mais o chamar dessa forma outra vez. A dupla Jagger e Richards, durante as gravações de “Dirty Work”, chegaram quase às vias de fato.

As coisas nunca melhoraram depois disso e a banda passou por períodos conturbados, como a saída de Billy Wymam. Por muitas vezes Jagger foi tratado como traidor e trapaceiro, por Richards, além de ser acusado de ser antipático e tratar os funcionários da equipe com prepotência e até mesmo desprezo. O clima das gravações de “A bigger bang” não foi tão massacrante, mas foi carregado com todas essas marcas e mágoas mútuas, um pouco amaneiradas pelo estado de saúde de Charlie.

Keith Richards faz pouquíssimas menções a esse período em sua biografia. E quando o faz, também faz questão de esclarecer a intranqüilidade do relacionamento com Jagger. Sobre o disco ele declara que Jagger mais uma vez estava enganado sobre as questões técnicas, tal qual acontecera com as gravações de “Exile on main st.”. vale ressaltar que “A bigger bang” foi gravado numa espécie de chácara de Mick Jagger.




Eis os termos: “Já estávamos com tudo preparado quando ele disse ‘Agora vamos levar tudo para um estúdio de gravação de verdade’; Don Was e eu olhamos um para o outro e Charlie olhou pra mim...Foda-se essa merda. Nós já estamos com tudo pronto por aqui. Por que você quer chutar o balde? Para dizer que foi gravado num estúdio assim-assim, com parede de vidro e sala de controle? Não vamos a lugar nenhum, companheiro. E finalmente ele cedeu.”

Independente disso o disco é simplesmente matador, faixa a faixa. Não tem uma que seja descartável. Todas têm a marca indelével dos Stones, com o mais rigoroso controle de qualidade possível. Esse disco é muito parecido com o clima de “Some girls” e com a mesma pegada. A excepcional levada de Charlie Watts na frente, seguida das guitarras de Richards e Wood, os dois em grande forma.

Além de todo o sucesso de venda e crítica, o disco ainda rendeu aos Stones a marca impressionante de mais de um milhão de público em um show, aqui, no Rio de Janeiro. Cercados de alta tecnologia, inclusive com direito a uma ponte ligando o hotel ao palco, eles detonaram o mais puro rock’n’roll. Foi um show memorável, transmitido pela televisão e aberto ao maior público de um show de rock.

Há boatos que eles irão se reunir para comemorar os 50 anos de existência da banda e que estão preparando mais um disco. Veja alguns fragmentos de notas que saíram na imprensa, tratando sobre o assunto:





- Os Rolling Stones estão juntos novamente para celebrar os 50 anos de formação da banda, mas a eventual turnê com a qual comemorariam este aniversário aparentemente não acontecerá até 2013, segundo declarou o guitarrista Keith Richards. Em entrevista concedida à revista americana "Rolling Stone", o guitarrista afirmou que a razão do atraso é porque eles "simplesmente não estão prontos". "Tenho a sensação que 2013 é uma data mais realista", acrescentou o músico, de 68 anos de idade, cujo delicado estado de saúde é mencionado por outras fontes citadas pela publicação como a razão principal deste reajuste no calendário.

- O número 165 de Oxford Street em Londres, local do clube do início da carreira, está bem diferente, mas os Rolling Stones continuam apaixonando multidões, 50 anos depois do primeiro show e de uma trajetória revolucionária no mundo do rock & roll.Uma agência bancária está no local da grande avenida comercial londrina que era ocupado pelo Marquee Club, onde em 12 de julho de 1962 um novo grupo formado por Brian Jones, Mick Jagger, Keith Richards e outros três músicos deu seus primeiros passos em um palco.
Jagger e Richards, amigos de infância, tinham então 19 anos, e Brian Jones, que morreu tragicamente afogado em uma piscina em 1969, 20.


- A imagem da língua foi usada pela primeira vez no encarte do disco Sticky Fingers, de 1971, e foi criada por John Pasche, um estudante de artes da Royal College of Art, em Londres. Pasche recebeu um pedido de Jagger em 1969, já que o vocalista estava descontente com os designs oferecidos pelo selo dos Stones, Decca Records. “O conceito de design da língua era representar a atitude antiautoritarismo da banda, a boca de Mick e as óbvias conotações sexuais”, Pasche disse anos depois. “Eu fiz o design de modo que fosse facilmente reproduzido e em um estilo que imaginei ser capaz de resistir ao teste do tempo.”

terça-feira, 10 de julho de 2012

LUTO

09/07/2012 - 12h33


Morre aos 66 anos José Roberto Bertrami, tecladista do Azymuth

DE SÃO PAULO

O músico José Roberto Bertrami, do Azymuth, morreu neste domingo (8), aos 66 anos, após semanas internado em um hospital. A notícia foi publicada na página da banda no Facebook.

"Luto. É com muita tristeza em nossos corações que anunciamos o falecimento do nosso irmão de som José Roberto Bertrami (21/02/1946 - 08/07/2012), após um período de luta", diz a mensagem publicada por Alex Malheiros e Ivan Conti Mamão.

"Tudo começou numa Linha do Horizonte, outros tantos horizontes alcançamos, bastava apenas um olhar e sabíamos onde alcançar o voo de nossos sucessos pelo mundo. Quantos sons, alegrias e obstáculos... Chegou a um ponto que nada nos separava. E de maneira nenhuma a sua maestria e amizade vais nos deixar... Foram 45 anos juntos... Eu e Alex, os seus eternos companheiros do Azymuth. Vá em paz, vá com Deus!", desabafa Mamão em outra homenagem no Facebook.

Ed Motta também lamentou a morte de Bertrami na rede social, lembrando que ouviu o Azymuth pela primeira vez quando tinha dez anos de idade. "Bertrami foi um embaixador da cultura brasileira sem ser brasilianista, careta, regional. Sempre fez música super brasileira mas através de teclados elétricos, sintetizadores analógicos. (...) Bertrami manjava do comping de jazz aliado aos grooves, as levadas brasileiras", exalta o músico. "Fico mega triste também porque estava para convidar o Bertrami para tocar no meu novo disco, isso já estava no papel desde o começo..."




O baterista Mamão, o tecladista José Roberto Bertrami (centro) e o baixista Alex Malheiros, do trio Azymuth

José Roberto Bertrami (teclado), Alex Malheiros (baixo) e Ivan Conti Mamão (bateria) começaram a carreira tocando no Canecão, no Rio, no início dos anos 70. Na época, o trio formou o Grupo Seleção, e se apresentava em diversas casas noturnas cariocas.

Da trilha sonora composta para o filme "O Fabuloso Fittipaldi" (1973), o trio tirou o nome Azymuth. Dois anos depois, colocou nas ruas seu primeiro disco de sucesso, "Linha do Horizonte.

No ano em que lançou "Águia Não Come Mosca", 1977, o Azymuth foi convidado para o Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e tornou-se o primeiro grupo brasileiro a participar do prestigiado evento.

No ano seguinte o trio fez uma turnê pelos EUA e, em 1979, gravou seu primeiro álbum internacional, "Light as a Feather", pela Milestone Records.

A música "Jazz Carnival" foi responsável pelo sucesso da banda lá fora --ela manteve o disco no topo das paradas britânicas por um ano e, com isso, fez o Azymuth entrar para o livro Guinness dos Recordes.

Em 1995, o Azymuth assinou com a Far Out Recordings, pela qual lançou cerca de dez discos, incluindo o trabalho mais recente, "Aurora", de 2011.

Em seu site oficial, a gravadora publicou uma nota sobre a morte do músico: "Ze Bertrami ficou conhecido por criar o fascinante 'samba doido', uma mistura de samba, jazz, funk e rock com um contagiante suingue que teve uma grande influência na música brasileira por meio de seus projetos solo e colaborações", diz o comunicado. "Joe Davis e Far Out Recordings perderam um de seus amigos mais queridos e o músico mais talentoso que lapidou a sonoridade do selo e a música brasileira por cinco décadas. Sentiremos muito a falta dele."

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1117383-morre-aos-66-anos-jose-roberto-bertrami-tecladista-do-azymuth.shtml

segunda-feira, 9 de julho de 2012

VELA ABERTA - WALTER FRANCO

Walter Franco-Canalha(ao vivo Festival da TV Tupi,1979)ver1 (only audio)



OBSCUROS


VELA ABERTA – Walter Franco

Ouvir Walter Franco cantando “Vela Aberta” faz bem para o espírito, renova a esperança, promove uma doce revolução na espera por algo que complemente a existência. Ele convida: tire os pés do chão / vamos passear / longe da razão / sem pressa pra voltar. A vertigem é a sensação essencial da vida. Se perder e se achar é apenas uma questão de ousadia, reservada só para os especiais, para os especialistas em cumplicidades especializadas.

Por muito tempo Walter Franco foi chamado de maldito. Sobre seus ombros foi jogada a capa de vanguardista. Sua música foi tachada de difícil. Assim, por muito tempo Walter Franco é escutado por poucos. Sua discografia não é grande, mas a sua reputação é enorme entre aqueles que buscam qualidade e honestidade no universo musical brasileiro, repleto de almas sebosas, de oportunistas, de farsantes, de estercos flutuantes.


De fato você encontra traços do minimalismo, da psicodelia, da poesia concreta, do ludismo, da sabedoria perene, do haicai, da contracultura, do non sense, do rock, do pop, da MPB, do experimentalismo linguístico e do tratamento de mixagens em sua arte. Mas esse é o grau natural de informação de uma pessoa culta, plausivelmente urbana, ativa e receptiva do seu tempo. É justamente esse aspecto que fundamenta a diferença entre arte e artemanha. Já dizia o filósofo Raul: falta cultura pra se cuspir na estrutura.

“Vela Aberta” é o quarto disco de Walter Franco, se não for computado o compacto simples “Tema do hospital”. A canção "No Fundo do Poço" foi tema da novela "O Hospital" da Rede Tupi no ano de 1971. A outra música é “Tire os pés do chão”. Com uma discografia pequena, apenas na quantidade, Walter Franco protagonizou algumas cenas bizarras da música popular brasileira, antes de chegar ao seu quarto disco. A vaia recebida por ele, ao defender a música “Cabeça”, em 1972, no Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, é um desses casos.

Quando o júri formado por Nara Leão, Roberto Freire, Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Décio Pignatari, deu o primeiro lugar para Walter Franco, a casa veio a baixo, a música tinha sido intensamente vaiada, o público não entendeu absolutamente nada, e nem a Rede Globo assumiria esse pacote, uma vez estando ela compromissada com a mediocridade. Resultado o júri foi deposto e como consequência, Roberto Freire e a banda Pholhas, denunciaram a armação, que sempre aconteceu nesses famosos festivais da mídia brasileira. Ele foi preso e ficou por isso mesmo.

“Vela Aberta” segue a trilha aberta por “Respire Fundo”, disco anterior, de 1978, com a mesma sonoridade, grandes músicos, produção apurada e leveza discursiva, e também lançado pela Epic. O repertório traz algumas releituras: “Me deixe mudo”, lançada no famoso disco “da mosca”, mais conhecido como “Ou não”, de 1973; “Feito gente”, lançada no disco “Revolver”, de 1975; e mais “Tire os pés do chão”, lançada no compacto simples “Tema do hospital”, de 1971.


A música “Canalha” rendeu mais uma controvérsia a Walter Franco, quando da sua apresentação no “Festival da TV Tupi”, em 1979, com discurso inflamado de Ziraldo, o então apresentador. Eram os anos de chumbo da ditadura militar. Walter Franco alegava que canalha era apenas a dor de existir. Acontece que devido ao momento histórico não tem como desvencilhar a música das imagens de tortura, extermínio e canalhice dos militares no poder. O arranjo de “Canalha” é pesado, agressivo e áspero, como condiz a letra.

“Vela Aberta”, faixa de abertura, é singela, mística e de uma leveza singular. Essa é uma das mais inspiradas músicas brasileiras. Sérgio Hinds, do “Terço”, cria um clima etéreo com a sua guitarra chorada, expressiva. Viagem certa. É pra ser escutada na criação de momentos de paz. “O dia do Criador” segue na caminhada mística. É uma espécie de reggae suingado, através do qual Walter Franco propaga suas convicções espirituais.


“Canalha” é a terceira faixa do disco, com peso na medida certa, combinando com um arranjo de cordas certeiro, contrastando com as viradas viscerais de bateria e voz rasgada de Walter Franco. Rara e abismática. “Corpo Luminoso” é outro suingue magistral, em cima de um poema minimalista. “Divindade” recebe nova roupagem, como também “Tire os pés do chão”, ambas mantêm a linha mística.

“Como tem passado” é uma espécie de charleston misturado com fox, e tem ludismo e non sense, com arranjo de metais na frente. Excelente arranjo. “Feito Gente” também recebe nova roupagem, bem diferente da original, com direito a arranjo de cordas e de metais proeminentes, bem ao estilo difundido nos anos 80, com influências diretas do Earth Wind and Fire. “Me deixe Mudo” recebeu a roupagem influenciada pelo reggae, na tradução devida da “Cor do Som” e de “Pepeu Gomes”, ficou massa, simpática e mais próxima do público.

“Bicho de Pelúcia” é uma parceria com Sérgio Pinto de Almeida, introspectiva e irônica, com arranjos de cordas, mais próxima dos experimentalismos anteriores do autor. “O blues é azul” é uma espécie de r&b, bem humorado e lúdico, pra terminar o disco de forma descontraída, também com arranjo de metais, deixando espaço na frente para os vocais femininos.



Os malucos zen:

Arranjos: Eduardo Assad

Eduardo Assad - teclados
Luiz Guilherme Rabello – bateria
Pedro Ivo Lunardi - baixo elétrico
Bira da Silva - percussão
Elias Almeida - guitarra
Luiz Guilherme Rabello - percussão
Sérgio Hinds - guitarra
Alwin E. J. Oelsner - viola de arco
Caetano Domingos Finelli - violino
Clemente Capella - violino
Elias Almeida - viola, violão
Elias Slon - violinoFlávio
Antônio Russo - violoncelo
German Wajnrot - violino
Joel Tavares - violino
Jorge Salim Filho - violino
Loriano Rabarchi - violino
Luiz Alfonsi - violino
Perez Dworecki - viola de Arco
Shinji Ueda - violoncelo
Settimo Paioletti - trompete
Severino Gomes da Silva - trombone
Arlindo Bonadio - trombone
Geraldo Auriani (Felpudo) – trompete



Discografia

Tema do Hospital – compacto simples (1971)
Ou Não (1973)
Revolver (1975)
Respire Fundo (1978)
Vela Aberta (1979)
Walter Franco (1982)
Tutano (2001)

Acompanhe Walter Franco no Twitter

Walter Franco @walterfranco Aqui quem fala é meu Walter Ego. São Paulo, Brazil

sábado, 7 de julho de 2012



OBSCUROS


CHUNGA’S REVENGE – Frank Zappa

Esse é um disco de transição do maior gênio louco da história do rock. Esse disco inicia a vertente dos anos setenta na carreira de Zappa. Dá uma espécie de parada no discurso político-satírico e aborda temas como sexo e experiências diversas na vida de uma banda na estrada. O sexo sempre foi um tema controverso na carreira desse pirado. Mas não é só isso que tem esse disco não.

A crítica nunca entendeu direito a figura multicriativa de Zappa. Muitos ignoram suas experiências e outros esperam sempre genialidades mirabolantes em seus discos, e poucos conseguem acompanhar as ideias desse pai da mãe das invenções. “Chunga’s Revenge”, por exemplo, é uma mistura de rock; jazz; blues; música de vanguarda; pop; doo wop; boogie; e ironias diversas. Mas não é nada disso individualmente ou integralmente.

A crítica não recebeu bem esse disco. Boa parte dos incapacitados alegou que faltava unidade. Outra parte afirmou que era pop demais, que a banda era sem liga e que Zappa tava mais interessado em ganhar dinheiro. O fato é que Zappa produzia muito e gravava tudo que criava, em estúdio e ao vivo, com músicos diversos. Quem é zappeiro de verdade identifica todas as suas fases e todas as suas facetas. Nesse sentido esse disco tem algumas peculiaridades.


A estética de vanguarda e instrumental vem do período de “Hot Rats”; “Lumpy Grave”; “Burnt Weeny Sandwich” e “Uncle Meat”, gravados anteriormente, em 68, 69 e 70. A parte blues, roqueira e maníaca por sexo, estava em processo, com “Chunga’s Revenge”, lançado em 70, e “200 Motels”, lançado em 71. As formações variam de acordo com essas fases. O que não varia de forma nenhuma é a qualidade musical e a ousadia em experimentar. “Chunga’s Revenge” também marca a estréia nos vocais de Mark Volman e Howard Kaylan, os famosos Flo e Eddie, ex-integrantes da banda “Turtles”, banda pop psicodélica americana, que emplacou vários sucessos, entre eles o hit “happy together”.

"Transylvania Boogie" começa o disco com a presença de uma guitarra com timbre marcado pelo excêntrico uso do wah, assim começa a intensa aula de timbres de Zappa nesse disco. Uma viagem pelo mundo freak. Logo em seguida vem a irônica "Road Ladies" , com Flo e Eddie nos vocais e solos de guitarra na cara, mais uma vez o wah timbra inusitadamente a guitarra de Zappa. "Twenty Small Cigars" é uma incursão pelo jazz bizarro apresentado em “Hot Rats”, clima introspectivo e enigmático. O timbre de Zappa nessa faixa é qualquer coisa absurdamente diferente. Não é uma faixa para qualquer um.


"The Nancy & Mary Music" é intensamente experimental, com uma improvisação de percussão exótica e mais viagens de wah na guitarra, essa faixa foi gravada ao vivo em Minneapolis, no teatro Tyrone Guthrie, imagine o resto desse show como foi loucura. "Tell Me You Love Me" e "Would You Go All the Way?", em seguida, formam, para os padrões zappistas, uma parte do material pop do disco e apresentam arranjos divertidos e complexos ao mesmo tempo, se o mundo pop fosse assim seria bom demais. Escute a guitarra nessas duas músicas e perceba as linhas de vocais e você vai entender o que é pop para esse pinel.

"Chunga's Revenge", a faixa titula é digna da excentricidade musical, típica de Frank Zappa, com direito a wah no sax Ian Underwood, imperdível. "The Clap" é mais um experimento estranho de percussão. O disco fecha com mais dois pops descabelados: "Rudy Wants to Buy Yez a Drink" e "Sharleena", dois arranjos desmiolados, irônicos, satíricos, com linhas de vocais completamente debochados. A última faixa é simplesmente uma pérola do repertório zappiano, um verdadeiro clássico, demais, demais.

A relação dos doidos:

• Frank Zappa – guitar, harpsichord, percussions, drums, vocals
• Max Bennett – bass
• George Duke – organ, trombone, electric piano, sound effects, vocals
• Aynsley Dunbar – drums, tambourine
• John Guerin – drums (only on Twenty Small Cigars)
• Don "Sugarcane" Harris – electric violin, organ
• Howard Kaylan – vocals
• Mark Volman – vocals
• Jeff Simmons – bass, vocals
• Ian Underwood – organ, guitar, piano, rhythm guitar, electric piano, alto saxophone, tenor saxophone, pipe organ