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terça-feira, 15 de julho de 2008


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A REBELDIA EM FOCO


“Culturas da Rebeldia - A juventude em questão”, escrito pelo sociólogo Paulo Sérgio do Carmo e editado pela Editora Senac, faz um balanço dos movimentos culturais da segunda metade do século XX. Esse é um livro dedicado basicamente aos jovens leitores, com uma linguagem sem rebuscamentos teóricos - que tanto enchem o saco -, leve e dinâmica, sem rodeios. No entanto é fácil perceber ao longo das 279 páginas que as informações nelas contidas servirão para muitas gerações, principalmente nesses tempos de ignorância recalcitrante.

O livro é dividido em duas partes. A primeira aborda as décadas da segunda metade do século XX, a partir dos anos 50 até os anos 90, com subtítulos bem interessantes: “Os anos 50: anos dourados; Os 60: anos rebeldes; Os 60: a tropicália diz não ao não; Os 60: a revolta estudantil; Os 60-70: rumo à luta armada; Os 70: anos de ressaca; Os 80: o rock balança a MPB; Os 90: para além dos caras-pintadas; Os 90: funk e rap: as vozes da periferia.

A segunda parte do livro aborda assuntos imediatos da juventude, como o consumo e a moda como forma de manifestação cultural, a questão da formação acadêmica e do primeiro emprego; o problema da disseminação da violência; a questão da ideologia; além da convivência com as ferramentas digitais. Tudo isso em referência aos aspectos históricos e aos desdobramentos culturais proporcionados por esses fenômenos existenciais. Ao final do livro, além da bibliografia existe um glossário muito legal e sugestões de livros e filmes com temáticas afins.

Para quem é completamente leigo sobre o assunto ou para aqueles que vivem do achismo e da pose imediatista de levantar bandeira de porra nenhuma, esse é o passo inicial para você saber quem é quem na feira livre. Serve, por exemplo, para você entender que a banda “Cachorro Grande” é um pastiche dos mods ingleses, de bandas como The Who, e que na época existia uma ideologia por trás, não era só uma questão de figurino; ou entender que “NX0” é um subproduto emo, que por sua vez já é um subproduto do gótico, ou seja, que essas duas bandas estão classificadas nas prateleiras de cosméticos, sob o rótulo de cremes para as cutículas, extraído da crise sexual das cenouras e das vargens.

Esse livro de Paulo Sérgio do Carmo, que é mestre em filosofia e publicou livros no gênero como o excelente A ideologia do trabalho: história e ética do trabalho no Brasil, entre outras coisas, proporcionará ao leitor um discernimento mais complexo na hora de se posicionar perante os fenômenos do consumo de arte e da cultura de massas, o que é fundamental na hora das suas escolhas, pois arte não é questão de gosto, é questão de consciência crítica, falo de critérios e não de maniqueísmos entre bom e ruim, simples e complexo, sagrado e profano, ou outras babaquices do gênero.

Logo na introdução do livro o autor desperta os sonâmbulos com uma instigante análise dos desdobramentos da frase “Não confie em ninguém com mais de trinta anos”, pronunciada nas agitações estudantis na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, nos fins da década de 60. o autor analisa que esses jovens acusavam seus pais e professores, educados pela disciplina, pelos princípios do autoritarismo e da hierarquia, e que esses métodos geraram por exemplo o nazismo e a corrida armamentista da guerra-fria. Esses jovens acusavam também os executivos engravatados, que fomentavam as calúnias humanistas de Wall Street. Mas esses mesmos jovens, ou grande parte deles, se transformaram em yuppies nos anos 80, ocupando altos cargos executivos ou desenvolvendo carreiras políticas, sendo eles agora cobrados pelos ideais de liberdade e igualdade que eles acreditavam.

Esse é um livro não só para curar a ignorância letal daqueles pimpolhos criados pelas babás eletrônicas, que vivem à sombra do vulcão das tecnologias digitais, mas também para curar o supremo radicalismo reacionário e burro do machismo feudal de muitos pais que dirigem os sacro-santos lares de boa parte da classe média brasileira. Esse livro não contém contra-indicações é só correr para o abraço.

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