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terça-feira, 3 de julho de 2012




PRA LIGAR

BAYLEAF – Stone Gossard


Projeto paralelo. Disco alternativo. Produção independente. Seja lá qual for o rótulo dado a esse cd, é completamente desnecessário, ao mesmo tempo em que inoportuno. Esse é um trabalho criativo, na mais plena aplicação do termo. Além do talento e da veia roqueira, existe nesse álbum a antena do tempo, da atualidade, dos caminhos herdados, dos desdobramentos do rock.

Não importa o ano de lançamento e nem a origem de Stone Gossard, mesmo se ele não tivesse entrado na pleura do rock através dos ares pesados do Pearl Jam, como membro fundador, ainda assim ele teria o seu lugar reservado no bólido da resistência cultural que levará os últimos resquícios da arte para os confins do universo. Onde tudo é mercado, onde tudo é grife e quase nada é blefe, “Bayleaf” é um verdadeiro condimento para transformar os dias amargos.

Esse disco levou quase cinco anos para ficar pronto e foi lançado em 11 de setembro de 2001. Uma das suas características é a maturidade. A maturação é um fenômeno em extinção em tempos de fragmentação e descontinuidade. Por isso muitos não especificarão de imediato, e nem especificaram, o valor dessa obra. Não existe nada de fenomenal em “Bayleaf”, e esse é o seu maior segredo. É música simples, direta e honesta, com produção impecável, de quem sabe o que faz na captura dos sons.

Escute a balada “Anchors” e você compreenderá de imediato o que estou escrevendo. Essa é uma daquelas faixas feitas para você ouvir no fone de ouvido, debruçado na janela do vigésimo andar, olhando a cidade lá embaixo anoitecer sob um manto fino de garoa. Você embarcará numa cama de texturas de órgão hammond c-3, piano e violão acústico, e viajará em busca do destino dos carros, e sentirá dificuldades para voltar para o mesmo lugar.

A etérea “Fits” será responsável por divagações, por digressões e oscilações leves do espírito. Essa faixa parece um mantra saído do ano 200, antes de Cristo. Quando você menos esperar os seus pés já saíram do chão. Uma guitarra com envelope filter dará um clima especial a esse momento. Uma outra guitarra distorcida e absurdamente bem timbrada, será a sua âncora em ecos. Aproveite e visite aqueles lugares obscuros da sua mente e limpe o quarto, abra as janelas e dê uma arejada na varanda.

“Bore Me” é a primeira faixa do disco. Ela contém o DNA da pegada das outras músicas. Tem texturas leves e guitarras distorcidas. E como em todo o disco, com uma timbragem eficiente em demasia, eis o extremo bom gosto do guitarrista. Nessa faixa você é apresentado ao vocalista Stone Gossard, que despretensiosamente toma a cena e proporciona momentos convincentes de pura leveza.



Em “Pigeon” você vai ouvir uma guitarra timbrada com fuzz que o carregará para territórios mais pesados. Nessa faixa Stone Gossard faz um solo muito bem colocado, sem aquela ansiedade de fritar, que é típica dos guitarristas que lançam trabalhos solos. Essa é uma faixa mais densa, com pegada mais forte. No entanto, as texturas e o toque de leveza não desaparecem.

A faixa que dá título ao disco tem o espírito de Neil Young perambulando pelas esquinas. Guitarras distorcidas e aquela pegada quase épica, intensa, com baixo e bateria, tocados por Stone Gossard, seguindo a linha característica do Crazy Horse. Stone Gossard usa na faixa, com economia e funcionalidade, um wah wah e um rotovibe, provando a sua especialidade em criar camadas sonoras.

As outras faixas você vai descobrir as especiarias e o tempero ouvindo inteiramente esse disco sensacional. Stone Gossard tocou guitarras, violões, piano, baixo, bateria e percussões, além dos vocais. Ele contou com a ajuda dos pirados: Pete Droge – background vocals, 12-string guitar, Prophet 5, slide guitar, clavinet, mellotron, guitar, bass guitar, keyboards, acoustic guitar, production; Mike Stone – drums; Ron Weinstein – piano, Hammond C3; Ty Willman – lead vocals on "Cadillac", "Unhand Me", and "Fend It Off", background vocals, entre outros.



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