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sábado, 14 de julho de 2012





50 anos de Rolling Stones


Não é nada em especial, nada apoteótico. Apenas escrevo sobre três discos de uma banda que eu gosto demais. Já escrevi anteriormente nesse blog sobre “Exile on main st.”, um álbum fora de série. Agora levo em consideração outros discos que também considero geniais. Não é comemoração de porra nenhuma, é apenas rock’n’roll, e eu estou nessa de com força.





IT’S ONLY ROCK’N’ROLL

Esse é um disco de transição, em vários sentidos. Tem muito mais pegada do que os anteriores, marca a saída de Mick Taylor e a eminente entrada de Ron Wood, como também é o primeiro em que The Glimmer Twins assinam a produção. Muda a sonoridade, muda a pegada, o texto fica mais festivo, mas a ironia, o deboche e o sarcasmo continuam.

Reza a lenda que a ideia inicial era gravar um disco apenas com covers da música negra americana, que havia despertado o interesse da dupla dinâmica, inclusive influenciando o disco anterior, o famoso “Sopa de cabeça de bode”. No entanto, um novo material foi escrito e restou apenas a versão de “Ain’t too proud to beg”, sucesso dos Temptations, que recebeu uma interpretação próxima da original, mas muito mais pesada, verdadeiramente roqueira.

Das outras nove faixas autorais existe uma certa polêmica sobre “Time waits for no one”. Mick Taylor afirma ser co-autor dessa faixa, mas no disco foi creditada apenas a Jagger e Richards. Há quem afirme que esse foi um dos motivos para Mick ter saído da banda, pois não era a primeira vez que isso acontecia. Como também há quem afirme que isso aconteceu com Brian Jones e acontece frequentemente com Ron Wood. Outra peculiaridade é que a faixa que dá título ao disco vinha sendo trabalhada por Mick Jagger e David Bowie, mas foi gravada na casa de Ron Wood e creditada na capa do disco como tendo sido inspirada por ele.



Com a produção própria, depois de várias produções em parceria com Jimmy Miller, os metais foram deixados de lado, os pianos foram mantidos, a bateria ganhou mais destaque e a voz de Jagger ficou mais próxima da base, para formar a massa sonora que caracterizaria o som dos Stones daí por diante. Também é relevante o controle sobre os solos, fato que sempre incomodou Keith Richards, que revelou em sua autobiografia “Vida”, alegando que o grande barato dos Stones sempre foi não haver distinção entre guitarra solo e base.

Para Richards Mick Taylor não se encaixava na banda por ter essa característica de ser um guitarrista solo, e também pelo fato de não se envolver no estilo de vida dos Stones: sexo, drogas e rock’n’roll. Acontece que os discos em que Mick Taylor participa estão entre os melhores de toda uma geração roqueira. Antes dele a banda era reputada pelas atitudes rebeldes e pelo discurso inflamado, nunca pela musicalidade.

Vale ressaltar também que em sua biografia Keith Richards também reclama da presença virtuosa de Billy Preston, afirmando que por muitas vezes a banda era obrigada a seguir uma linha determinada pelos teclados de Billy, pela sua qualidade musical, mas que na realidade aquilo fugia ao estilo roqueiro dos Stones. A verdade é que se trata visivelmente de uma briga de egos, tanto é que, há um bom tempo, Jagger e Richards mal se falam.




“It’s Only Rock’n’Roll” é um disco que Richards se refere muito pouco em sua biografia. A crítica também não é unânime e nem os fãs. Distante dessas polêmicas menores e sob o olhar e a audição de quem gosta de rock, esse disco é pedra, tem presença garantida na discoteca de quem saca do assunto. Esse é um disco visceral, urgente, com unidade, mesmo que gravado aos pedaços, como a maioria dos discos dos Stones.

“If you can’t rock me” abre o disco na mais perfeita tradução do universo stoneano: riffs certeiros, balanço, malícia e sarcasmo. Pra ouvir no talo, faça as paredes da sua casa balançar. Destaque para o baixo de Bill. “Ain’t too proud to beg”, foi lançada como single e tem o destaque para o clavinete de Billy Preston, que dá um toque especial a esse r&b.

Logo em seguida vem a faixa título, que tem a base da banda de Ron Wood, que estava gravando o seu primeiro disco solo, paralelo ao Faces: Kenney Jones, bateria; Willie Weeks, no baixo; Ronnie Wood, no violão de doze cordas e vocais. A faixa conta ainda com os vocais adicionais de David Bowie. (Será que existiu de fato um caso entre Jagger e Bowie? Quem se importa?). Essa faixa é simplesmente obrigatória.





"Till the Next Goodbye" é uma das grandes baladas desse disco e do repertório dos Stones, com destaque para o slide de Taylor, técnica que Richards nunca dominou. Logo em seguida vem uma das músicas mais bonitas dos Stones, a super balada . "Time Waits for No One" , um clássico de todos os tempos, climática, etérea e profética. Mick Taylor mostra todo o seu talento em um solo memorável. Assim fica fácil compreender o ciúme de Richards.

"Luxury" abre o lado dois do vinil e é outra faixa que traduz perfeitamente o universo stoneano. Outro clássico. Também para ser ouvido no talo. Logo em seguida vem o petardo, a cacetada chamada "Dance Little Sister", a mais feroz do disco, com pegada animal, para estourar seus alto-falantes, essa é aquela música ideal para você ouvir antes de ir pra qualquer balada, acende qualquer brochada. Já "If You Really Want to Be My Friend" é uma balada pra mergulhar na solidão.

"Short and Curlies" remete às raízes dos Stones, quando eles faziam covers de blues americanos. "Fingerprint File" encerra o disco de forma emblemática. Eis aqui a sonoridade do disco posterior: “Black and Blue”. Vários sintetizadores foram utilizados nessa faixa e o seu discurso revela a realidade de Keith Richards, mergulhado em drogas e problemas com a polícia. A paranóia de receber a visita dos policiais era a realidade corrente de Richards, que havia passado pelo constrangimento de ir a júri, em 1973, com 26 acusações. Absolvido, mas absorvido.







SOME GIRLS

“Eu nunca tive problemas com drogas, tive com a polícia”, certa vez vaticinou cinicamente para a história Keith Richards. Pouco antes das gravações de Some Girls ele foi preso no Canadá, portando 28 gramas de heroína, sob a acusação de tráfico, com chances reais de ir pra cadeia. A sombra dessa consequência pairou sobre as gravações dessa obra prima.

Já em Toronto o guitarrista foi obrigado a passar por um longo processo de desintoxicação, além de conviver por um bom período à espera de uma notícia trágica de prisão e dissolução da banda por sua causa. Em sua biografia ele afirmou que essa foi uma das principais razões para tornar Some Girls tão visceral, com tanto fôlego, com a urgência de fazer rápido e pra sempre.

Esse disco é especial por vários motivos, mas o principal deles é que ele é capaz de traduzir a banda por inteira: rock’n’roll na veia, puro e simplesmente. O disco inteiro é focado na banda e a sonoridade se restringe e gira em volta dos cinco caras, agora, pela primeira vez, Ron Wood é membro. Essa é a sonoridade que marcará para sempre os Stones, bateria na cara, voz entre os instrumentos e guitarras misturadas.




Keith Richards tributa boa parte da mágica desse disco ao pedal de guitarra Carbon Copy, da MXR, que ele usou praticamente em todas as faixas. O famoso Phaser 90, da MXR, também foi utilizado bastante no disco. De acordo com Richards, todo o material do disco foi composto nos estúdios Pathé Marconi, em um subúrbio de Paris e grande parte da sonoridade se deve ao engenheiro Chris Kimsey, que trabalhou com eles pela primeira vez nesse disco e em mais oito discos.

Some Girls foi sucesso de venda e crítica, também gerando várias polêmicas, bem ao estilo de vida dos Stones. A capa original trazia fotos de mulheres famosas que não gostaram nem um pouco de ter suas imagens atreladas a uma letra, no mínimo, sarcástica sobre os valores, intenções e comportamentos das mulheres, na visão de Mick Jagger. No vinil a capa era bem engenhosa, era vazada e o encarte formava várias possibilidades de visualização.

“Miss you” abre o disco de forma fenomenal, simpática, dançante e eterna. Com uma certa influência disco e ligeiramente rap. É possível perceber a guitarra de Keith envenenada com o pedal Carbon Copy. Essa faixa é histórica, é clássica e despojadamente anos setenta até o osso. “When the whip comes down” tem uma letra que aborda a história parcial de uma bicha, que vive esse conflito da aceitação, muda de cidade e passa a coletar lixo. Fortemente influenciada pela sonoridade e discurso punk. É rock puro. Paulada.




“Just my imagination (running away whit me)” é mais um cover do The Temptations, com arranjo bem diferente da versão original. Continua sendo uma balada, mas bem mais acelerada. “Some girls”, a faixa título, é um dos maiores clássicos dos Stones, com letra verdadeiramente punk. Essa é mais uma das baladas, no entanto, nada romântica. É imperdivelmente canastrona, de um cinismo extremamente sofisticado. Segue a linha de Under may Thumb e Brown Sugar.

“Lies” é rock’n’roll puro: guitarras no talo, com solos bem anos 50. Essa é pra dançar, se espernear e perturbar toda a vizinhança, no volume máximo. “Far away eyes” é a faixa de abertura do lado dois no vinil. É um country, é uma faixa estradeira, em que Jagger brinca com o sotaque do sul dos Estados Unidos. “Respectable” é outro rock’n’roll pra ser ouvido fritando o amplificador, do caralho. “Before they make me run”, essa é uma canção autobiográfica de Richards e trata, entre outras coisas, da sua prisão em Toronto e da morte do seu amigo Graham Parsons, por overdose.

“Beast of burden” é uma das lendárias baladas dos Stones. Pode ser mais uma canção de amor ou pode ser um desabafo de Keith Richards em relação ao seu tempo de entrega ao trabalho, depois de largar as drogas, pela milésima vez. “Shatered” é outro super clássico dos Stones, verdadeira relíquia do rock. Trata da vida em Nova York nos anos 70. A quem afirme ser uma música punk ou ser o embrião do rap. Seu discurso é afiado e a sonoridade é massa demais.



Some Girls

Algumas garotas me dão dinheiro, algumas meninas me compram roupas
Algumas garotas me dão jóias, que eu nunca pensei que seriam minhas
Algumas garotas me dão diamantes, algumas meninas, ataques cardíacos
Algumas garotas me dão pão a todos os meus, eu não quero voltar nunca

Algumas meninas me dão jóias, outras me compram roupas
Algumas meninas me dão filhos, eu nunca pedi por eles.
Então me dê todo seu dinheiro, me dê todo o seu ouro
Vou-lhe comprar uma casa em Baker Street, e dar-lhe metade do que eu tenho

Algumas garotas pegam o meu dinheiro, algumas meninas tomam minhas roupas
Algumas garotas pegam minha camisa pelas costas, e deixar-me com uma dose letal
Garotas francesas querem Cartier, garotas italianas querem carros
garotas americanas querem tudo no mundo que você pode imaginar
garotas inglesas são tão frescas, não posso falar ao telefone
Às vezes eu tiro o receptor fora do gancho, eu não quero que elas me liguem pra tudo

Garotas brancas são bem engraçadas, às vezes elas me levam á loucura
garotas negras só querem foder a noite toda, eu só não tenho muitas horas
garotas chinesas são tão gentis, elas são realmente provocantes
Você nunca sabe bem o que elas estão escondendo dentro dessas sedosas mangas
Dá-me todo o dinheiro, me dê todo o seu ouro
Vou-lhe comprar uma casa em Baker Street, e dar-lhe metade do que eu tenho

Algumas meninas são tão puras, algumas meninas tão corruptas
Algumas meninas me dão filhos, eu só fiz amor com ela uma vez!
Me dê seu dinheiro, me dê metade do seu carro
Me dê metade de tudo, eu vou fazer você a maior do mundo
Então me dê todo seu dinheiro, me dê todo o seu ouro
Vamos voltar para a praia de Zuma, vou dar-lhe metade de tudo o que eu tenho





A BIGGER BANG


Até agora esse é o último disco de estúdio dos Rolling Stones, lançado oito anos depois da então última obra, “Bridges to Babylon”. No meu entender esse é o maior disco da história dos Stones. É como se eles fizessem uma espécie de balanço dos melhores aspectos musicais que nortearam a banda em 50 anos de existência. O que mais funcionou nos Stones está nesse disco. Uma verdadeira obra prima.

Como sempre, as gravações foram cercadas de ciscunstâncias especiais: Charlie Watts lutando contra um câncer, Ron Wood abalado com o suicídio da sua ex-mulher, e Jagger e Richards já sem quase nenhuma amizade para celebrar. O disco foi gravado na França, com o auxílio de Don Was na produção e praticamente só os músicos da banda, dessa vez com a participação de Darryl Jones no baixo.

Em vinil o disco saiu como sendo duplo e capa bem mais destacada, mesmo assim está entre as piores já lançadas pela banda. Em cd é impossível ler qualquer informação sem que você precise de uma lupa. Esse é o único defeito do disco. O resto é material de alta qualidade, provando que a banda ficou mais experiente, nunca envelhecida. Rock, blues e apelo pop, os ingredientes de sempre, em doses concentradas, e mais as baladas.



No final de 1984, depois de ter ido para a balada com Keith Richards, uma espécie de reconciliação, Mick Jagger, da casa de Keith Richards, ligou para a casa de Charlie Watts, cinco horas da manhã, perguntando: “cadê o meu baterista”? Isso lhe rendeu um tremendo soco na cara, poucos minutos depois, seguido da ameaça e recomendação de nunca mais o chamar dessa forma outra vez. A dupla Jagger e Richards, durante as gravações de “Dirty Work”, chegaram quase às vias de fato.

As coisas nunca melhoraram depois disso e a banda passou por períodos conturbados, como a saída de Billy Wymam. Por muitas vezes Jagger foi tratado como traidor e trapaceiro, por Richards, além de ser acusado de ser antipático e tratar os funcionários da equipe com prepotência e até mesmo desprezo. O clima das gravações de “A bigger bang” não foi tão massacrante, mas foi carregado com todas essas marcas e mágoas mútuas, um pouco amaneiradas pelo estado de saúde de Charlie.

Keith Richards faz pouquíssimas menções a esse período em sua biografia. E quando o faz, também faz questão de esclarecer a intranqüilidade do relacionamento com Jagger. Sobre o disco ele declara que Jagger mais uma vez estava enganado sobre as questões técnicas, tal qual acontecera com as gravações de “Exile on main st.”. vale ressaltar que “A bigger bang” foi gravado numa espécie de chácara de Mick Jagger.




Eis os termos: “Já estávamos com tudo preparado quando ele disse ‘Agora vamos levar tudo para um estúdio de gravação de verdade’; Don Was e eu olhamos um para o outro e Charlie olhou pra mim...Foda-se essa merda. Nós já estamos com tudo pronto por aqui. Por que você quer chutar o balde? Para dizer que foi gravado num estúdio assim-assim, com parede de vidro e sala de controle? Não vamos a lugar nenhum, companheiro. E finalmente ele cedeu.”

Independente disso o disco é simplesmente matador, faixa a faixa. Não tem uma que seja descartável. Todas têm a marca indelével dos Stones, com o mais rigoroso controle de qualidade possível. Esse disco é muito parecido com o clima de “Some girls” e com a mesma pegada. A excepcional levada de Charlie Watts na frente, seguida das guitarras de Richards e Wood, os dois em grande forma.

Além de todo o sucesso de venda e crítica, o disco ainda rendeu aos Stones a marca impressionante de mais de um milhão de público em um show, aqui, no Rio de Janeiro. Cercados de alta tecnologia, inclusive com direito a uma ponte ligando o hotel ao palco, eles detonaram o mais puro rock’n’roll. Foi um show memorável, transmitido pela televisão e aberto ao maior público de um show de rock.

Há boatos que eles irão se reunir para comemorar os 50 anos de existência da banda e que estão preparando mais um disco. Veja alguns fragmentos de notas que saíram na imprensa, tratando sobre o assunto:





- Os Rolling Stones estão juntos novamente para celebrar os 50 anos de formação da banda, mas a eventual turnê com a qual comemorariam este aniversário aparentemente não acontecerá até 2013, segundo declarou o guitarrista Keith Richards. Em entrevista concedida à revista americana "Rolling Stone", o guitarrista afirmou que a razão do atraso é porque eles "simplesmente não estão prontos". "Tenho a sensação que 2013 é uma data mais realista", acrescentou o músico, de 68 anos de idade, cujo delicado estado de saúde é mencionado por outras fontes citadas pela publicação como a razão principal deste reajuste no calendário.

- O número 165 de Oxford Street em Londres, local do clube do início da carreira, está bem diferente, mas os Rolling Stones continuam apaixonando multidões, 50 anos depois do primeiro show e de uma trajetória revolucionária no mundo do rock & roll.Uma agência bancária está no local da grande avenida comercial londrina que era ocupado pelo Marquee Club, onde em 12 de julho de 1962 um novo grupo formado por Brian Jones, Mick Jagger, Keith Richards e outros três músicos deu seus primeiros passos em um palco.
Jagger e Richards, amigos de infância, tinham então 19 anos, e Brian Jones, que morreu tragicamente afogado em uma piscina em 1969, 20.


- A imagem da língua foi usada pela primeira vez no encarte do disco Sticky Fingers, de 1971, e foi criada por John Pasche, um estudante de artes da Royal College of Art, em Londres. Pasche recebeu um pedido de Jagger em 1969, já que o vocalista estava descontente com os designs oferecidos pelo selo dos Stones, Decca Records. “O conceito de design da língua era representar a atitude antiautoritarismo da banda, a boca de Mick e as óbvias conotações sexuais”, Pasche disse anos depois. “Eu fiz o design de modo que fosse facilmente reproduzido e em um estilo que imaginei ser capaz de resistir ao teste do tempo.”

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