OBSCUROS
VELA ABERTA – Walter Franco
Ouvir Walter Franco cantando “Vela Aberta” faz bem para o espírito, renova a esperança, promove uma doce revolução na espera por algo que complemente a existência. Ele convida: tire os pés do chão / vamos passear / longe da razão / sem pressa pra voltar. A vertigem é a sensação essencial da vida. Se perder e se achar é apenas uma questão de ousadia, reservada só para os especiais, para os especialistas em cumplicidades especializadas.
Por muito tempo Walter Franco foi chamado de maldito. Sobre seus ombros foi jogada a capa de vanguardista. Sua música foi tachada de difícil. Assim, por muito tempo Walter Franco é escutado por poucos. Sua discografia não é grande, mas a sua reputação é enorme entre aqueles que buscam qualidade e honestidade no universo musical brasileiro, repleto de almas sebosas, de oportunistas, de farsantes, de estercos flutuantes.
“Vela Aberta” é o quarto disco de Walter Franco, se não for computado o compacto simples “Tema do hospital”. A canção "No Fundo do Poço" foi tema da novela "O Hospital" da Rede Tupi no ano de 1971. A outra música é “Tire os pés do chão”. Com uma discografia pequena, apenas na quantidade, Walter Franco protagonizou algumas cenas bizarras da música popular brasileira, antes de chegar ao seu quarto disco. A vaia recebida por ele, ao defender a música “Cabeça”, em 1972, no Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, é um desses casos.
Quando o júri formado por Nara Leão, Roberto Freire, Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Décio Pignatari, deu o primeiro lugar para Walter Franco, a casa veio a baixo, a música tinha sido intensamente vaiada, o público não entendeu absolutamente nada, e nem a Rede Globo assumiria esse pacote, uma vez estando ela compromissada com a mediocridade. Resultado o júri foi deposto e como consequência, Roberto Freire e a banda Pholhas, denunciaram a armação, que sempre aconteceu nesses famosos festivais da mídia brasileira. Ele foi preso e ficou por isso mesmo.
“Vela Aberta” segue a trilha aberta por “Respire Fundo”, disco anterior, de 1978, com a mesma sonoridade, grandes músicos, produção apurada e leveza discursiva, e também lançado pela Epic. O repertório traz algumas releituras: “Me deixe mudo”, lançada no famoso disco “da mosca”, mais conhecido como “Ou não”, de 1973; “Feito gente”, lançada no disco “Revolver”, de 1975; e mais “Tire os pés do chão”, lançada no compacto simples “Tema do hospital”, de 1971.
A música “Canalha” rendeu mais uma controvérsia a Walter Franco, quando da sua apresentação no “Festival da TV Tupi”, em 1979, com discurso inflamado de Ziraldo, o então apresentador. Eram os anos de chumbo da ditadura militar. Walter Franco alegava que canalha era apenas a dor de existir. Acontece que devido ao momento histórico não tem como desvencilhar a música das imagens de tortura, extermínio e canalhice dos militares no poder. O arranjo de “Canalha” é pesado, agressivo e áspero, como condiz a letra.
“Vela Aberta”, faixa de abertura, é singela, mística e de uma leveza singular. Essa é uma das mais inspiradas músicas brasileiras. Sérgio Hinds, do “Terço”, cria um clima etéreo com a sua guitarra chorada, expressiva. Viagem certa. É pra ser escutada na criação de momentos de paz. “O dia do Criador” segue na caminhada mística. É uma espécie de reggae suingado, através do qual Walter Franco propaga suas convicções espirituais.
“Canalha” é a terceira faixa do disco, com peso na medida certa, combinando com um arranjo de cordas certeiro, contrastando com as viradas viscerais de bateria e voz rasgada de Walter Franco. Rara e abismática. “Corpo Luminoso” é outro suingue magistral, em cima de um poema minimalista. “Divindade” recebe nova roupagem, como também “Tire os pés do chão”, ambas mantêm a linha mística.
“Como tem passado” é uma espécie de charleston misturado com fox, e tem ludismo e non sense, com arranjo de metais na frente. Excelente arranjo. “Feito Gente” também recebe nova roupagem, bem diferente da original, com direito a arranjo de cordas e de metais proeminentes, bem ao estilo difundido nos anos 80, com influências diretas do Earth Wind and Fire. “Me deixe Mudo” recebeu a roupagem influenciada pelo reggae, na tradução devida da “Cor do Som” e de “Pepeu Gomes”, ficou massa, simpática e mais próxima do público.
“Bicho de Pelúcia” é uma parceria com Sérgio Pinto de Almeida, introspectiva e irônica, com arranjos de cordas, mais próxima dos experimentalismos anteriores do autor. “O blues é azul” é uma espécie de r&b, bem humorado e lúdico, pra terminar o disco de forma descontraída, também com arranjo de metais, deixando espaço na frente para os vocais femininos.
Os malucos zen:
Arranjos: Eduardo Assad
Eduardo Assad - teclados
Luiz Guilherme Rabello – bateria
Pedro Ivo Lunardi - baixo elétrico
Bira da Silva - percussão
Elias Almeida - guitarra
Luiz Guilherme Rabello - percussão
Sérgio Hinds - guitarra
Alwin E. J. Oelsner - viola de arco
Caetano Domingos Finelli - violino
Clemente Capella - violino
Elias Almeida - viola, violão
Elias Slon - violinoFlávio
Antônio Russo - violoncelo
German Wajnrot - violino
Joel Tavares - violino
Jorge Salim Filho - violino
Loriano Rabarchi - violino
Luiz Alfonsi - violino
Perez Dworecki - viola de Arco
Shinji Ueda - violoncelo
Settimo Paioletti - trompete
Severino Gomes da Silva - trombone
Arlindo Bonadio - trombone
Geraldo Auriani (Felpudo) – trompete
Discografia
Tema do Hospital – compacto simples (1971)
Ou Não (1973)
Revolver (1975)
Respire Fundo (1978)
Vela Aberta (1979)
Walter Franco (1982)
Tutano (2001)
Acompanhe Walter Franco no Twitter
Walter Franco @walterfranco Aqui quem fala é meu Walter Ego. São Paulo, Brazil
Nenhum comentário:
Postar um comentário