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sexta-feira, 15 de junho de 2012



HISTÓRICOS


Tim Maia - 1970

Tim Maia é uma das maiores figuras da música brasileira, em todos os sentidos. Dono de um vozeirão capaz de derrubar quarteirões e de frases bombásticas capazes de explodirem a hipocrisia imaculada de um turbilhão de canalhas do meio artístico. Tim Maia tinha um talento raro para criar melodias, baladas e balanços, deixando o seu talento registrado em discos primordiais para a formação do imaginário popular, achincalhando assim o purismo patético dos críticos e a incredulidade caricatural dos intelectuais. Sua saga foi sacramentada a partir do lançamento dessa obra genial, homônima: Tim Maia, em 1970.

Era o início de uma década de muitos ganhos para a cultura universal, mas que, ironicamente começa com várias perdas significativas, como as mortes de Joplin, Hendrix e o fim dos Beatles. No Brasil a ditadura estava de vento em popa na burlesca tarefa de exterminar a oposição política. Por outro lado a seleção de futebol era tri-campeã no México e a festa estava garantida por muito tempo. Depois de muita teimosia e sofrimento, eis que era chegada a vez de Tim Maia meter a mão na receita feliz do bolo musical brasileiro. Ele já tinha cometido a façanha de ser expulso dos Estados Unidos e ter liderado Roberto Carlos no grupo Sputiniks.

Tim Maia já havia gravado anteriormente: um compacto simples pela CBS, em 68, e outro pela Fermata, em 69 cantando em inglês e contendo a música “These are the songs”, regravada em 70 por Elis Regina e ele, no álbum “Em pleno verão”, lançado no início do ano. Tim Maia também já tinha experiência de estúdio como produtor, o que fez com que o seu Lp de estréia tenha sido registrado com uma sonoridade peculiar, com a bateria na frente, com pegada seca, sem compressão adicional. Tim assinou contrato por indicação dos Mutantes e de Erasmo Carlos, velho parceiro de baladas.



O disco teve a sustentação do grupo vocal “Os Diagonais”, que tinha como um dos integrantes o músico e compositor Cassiano, amigo particular de Tim Maia. O repertório e a produção foram encabeçados por Tim Maia. A música “Padre Cícero” já era conhecida do público antes do lançamento do disco, em junho de 1970. Ela era tema da novela “Irmãos Coragem”, da TV Globo. A crítica, mais uma vez, torceu o nariz, incapaz de reconhecer uma obra seminal, mas o público aplaudiu e consumiu em larga escala, deixando Tim Maia no topo da onda.

“Coroné Antônio Bento”; “Cristina”; “Padre Cícero”; “Eu amo você”; “Primavera”; e “Azul da cor do mar” são verdadeiras fundamentações da qualificação suprema da música brasileira. Não pela harmonia complicada e nem pelo virtuosismo instrumental, mas sim pela capacidade singular de dialogar com o simples, com o sentimental, com o abismo insondável da alma humana, como também pelo talento exuberante do cantor Tim Maia, versado na arte de encantar pela voz. O Brasil não tem nenhum cantor com o mesmo sentimento e a mesma técnica vocal de Tim Maia, a não ser Cauby Peixoto, outro fenômeno inexplicável.

Baladas e fusões do soul, do baião, do blues e do rock predominam no repertório do primeiro disco dessa figuraça. É impossível não viajar com a pegada soul de “Cristina” e “Azul da cor do Mar”. Tim Maia é irresistível. É música para sentir, pra dar umas pescoçadas, balançando o cabeção. Escute “Cristina” no volume máximo, no talo, fazendo os falantes espumarem e você vai sentir a magia desse mago da voz.

Tim Maia, além de tudo isso era um frasista nato. Algumas pérolas do universo Maia:

“O Brasil é o único Pais em que além de puta gozar, cafetão sentir ciúmes e traficante ser viciado, o pobre é de direita”

“Eu gosto de Rollings Stones, Stevie Wonder... Pra mim é o seguinte: primeiramente são os pretos cegos, depois os cegos, depois os pretos, depois os brancos”

Quando lhe perguntaram se não daria 1 milhão de dólares para transar com estrelas como Xuxa ou Vera Fischer, ele respondeu: “ Adoro todas elas, mas não pago mais que a tabela.”

“Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouco.”

“Evite acidentes, faça tudo de propósito.”





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