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terça-feira, 26 de junho de 2012




... E A GENTE SONHANDO – Milton Nascimento



Classe! Essa é a primeira ideia que passa na cabeça ao se ouvir esse disco de Milton Nascimento. Disco em grupo. Generosidade em demasia. Mas só os grandes são generosos. Milton garimpou em Minas e achou pedrarias raras. Eis que a música popular brasileira não se enterra jamais. Toda essa geração envelheceu, mas nela recrudesceu a magia, a curiosidade eterna da vertigem.

Esse é um disco terno, poético, de maior idade, alheio ao sucesso efêmero das celebridades imbecis do youtube e dos downlouds macaqueados em modismos. Nesse projeto ninguém precisa tocar ruim que trinca pra ser Cult. Quem canta nele não desafina pra depurar a alma, nem a melancolia é um produto bacaninha, bem embalado, bem alternativamente piegas, bem absurdamente caricatural.

De acordo com depoimento do próprio cantor e compositor, ele redescobriu sua cidade, a Três Pontas musical, através de uma menção em uma edição especial da revista Billboard especialista em música de alta qualidade. Lá encontrou artistas como Bruno Cabral, dono de uma voz impressionante; Ismael Tiso Jr., cantor, compositor e instrumentista; e Paulo Francisco, outro grande cantor.

Além dessa rapaziada, Milton Nascimento conta com a participação mais do especial de Wagner Tiso e de outras feras como: Marco Elizeo, guitarrista, arranjador e co-produtor do disco, juntamente com Milton; Lincoln Chieb, bateria; e Cláudio Ribeiro, baixo. O disco conta com composições dessa nova geração, do próprio Milton, inclusive uma inédita da década de 60, que dá título ao disco, e mais João Bosco, Vitor Ramil, Tunai, Cristovão Bastos, Lulu Santos, entre outros.

Existe um certo clima de Clube da Esquina, com seus arranjos acústicos, vocais e corais intensos, como também mútuas colaborações. A produção evidencia a naturalidade e os timbres puros, cristalinos. É um disco de maturidade, mas não é careta. Se você está procurando experimentalismos ou paródias de brega, facilmente encontráveis nas mais autênticas bodegas do oportunismo alternativo, passe longe desse cd. Esse disco é feito de água pura, sem ser encanada, sem cloro, sem clarificante.

São várias as poesias especiais desse disco, que o torna excelente para ouvir e pensar. Leia e escute: “Flor de Ingazeira”, de Francisco Bosco; “O Ateneu”, de Fernando Brant; “Estrela, Estrela”, de Vitor Ramil; e “Resposta ao Tempo”, de Aldir Blanc. No meio disso tudo uma interpretação inusitada para “Adivinha o quê?”, com arranjo diferente e o cantor Milton Nascimento exibindo sua grata herança dos bailes da vida.




Milton Nascimento excursionou pelo Brasil com o show “... E a gente sonhando”, dividindo o palco com inúmeros músicos e cantores, em grande espetáculo. Existe o plano de lançar o show gravado em dezembro, em Juiz de Fora, nos formatos cd, DVD e blu-ray. O show foi dirigido por Antônio Pillar e jamais passou aqui pelo Cariri, que vê a vida passar e passar, sem fazer nada para sair da inércia total.

Foi preciso Milton Nascimento nascer, crescer e se projetar além das fronteiras, para ser respeitado no mundo inteiro, reconhecido como gênio pelos mais geniais, para que a Billboard o descobrisse, para que ela se desdobrasse em guia, focando Três Pontas, para que Milton retornasse ao berço e dele, em talento, acalentasse sua mais renovada cria. Essa voz que não cala é a voz da paixão. Paixão pela arte.

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