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terça-feira, 5 de junho de 2012






HISTÓRICOS


Samba Esquema Novo – Jorge Ben


Essa obra seminal da música brasileira foi lançada em 1963, um ano depois do meu nascimento e um ano antes do golpe militar brasileiro. Nesse mesmo ano a sociedade brasileira rejeitou o parlamentarismo em um plebiscito. O nefasto massacre da Usiminas, em Ipatinga, aconteceu também em 1963, com mais de 30 operários mortos e mais de 3 mil feridos, humilhados, aviltados e torturados, introduzindo assim as barbaridades maiores que viriam com a ditadura militar.

Jorge Ben lançava o seu primeiro disco, esse sim, verdadeiramente revolucionário. Não era fácil ser brasileiro nesse período, bem menos ainda ser artista brasileiro. Ser o autor de “Samba Esquema Novo” também não era qualquer um que encarava essa parada não, principalmente com as patrulhas ideológicas instaladas na imprensa brasileira, preconceituosa e arbitrária. O Brasil pertencia à bossa nova. A bossa nova pertencia à burguesia.

Mesmo com 100 mil cópias vendidas em poucos meses de lançamento, “Samba Esquema Novo” recebia críticas acirradas e patéticas, como sempre, a imprensa especializada não sabe de porra nenhuma. Nunca soube. Para eles Jorge Ben era um engodo: não sabia tocar violão, não sabia cantar, tinha harmonias pobres e escrevia letras babaquinhas. Jorge Ben apresentou outra batida, que João Gilberto desconhecia e que Chico Buarque jamais preferiria.

Vender mais de 100 mil cópias era simplesmente excepcional para os padrões da época. Jorge Ben não só fez isso como fez muito mais, tornou o samba mais negro ainda, com suas influências africanas, desde a religiosidade afro até o suingue mbira da Rodésia em seu balançado malandro. Foi em 1963, também, que Martin Luther King Jr. proferiu o seu famoso discurso em frente ao Memorial Lincoln durante a marcha pelo o emprego e pela liberdade. Jorge Ben estava antenado e utilizou o discurso da consciência negra em seu primeiro disco e em vários outros.

A banda que acompanhou Jorge Ben nesse disco de estreia, na maioria das músicas, era o Copa 5, formada por Meireles: Sax; Pedro Paulo: Trompete;Toninho: Piano; Dom Um Romão: Bateria; e Manuel Gusmão: Baixo. Vale ressaltar aqui a participação do legendário baterista Dom Um Romão, que fez carreira nos Estados Unidos, tocando com feras do jazz, inclusive participando do Weather Report, uma das mais importantes bandas do jazz fusion.

Outras curiosidades desse disco histórico ficam por conta da timbragem da bateria, da sonoridade dos metais e da colocação do violão de Jorge Maravilha. A linguagem analógica e valvulada supera, e muito, milhares de gravações feitas com aparelhagens de alta resolução. Além disso, o maestro Gaya resolveu não colocar o baixo em algumas faixas, por achar que a pegada de Jorge Ben já seria suficiente. Algumas faixas foram arranjadas Carlos Monteiro e algumas arranjadas e tocadas pelo Luiz Carlos Vinhas Trio.

“Mas que nada”, “Chove chuva”, “Por causa de você” e “Balança Pema” são pérolas não só desse disco primordial, mas sim da verdadeira música brasileira. Como todas as grandes músicas, essas não escaparam dos predadores cantores de barzinhos e nem da famigerada versão cretina de outros artistas. No entanto, escute esse disco, em seu estado original, de preferência o vinil, e você entenderá a importância dele.

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