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sábado, 23 de agosto de 2008





Históricos

A magia crua do
Creedence Clearwater Revival


O nascedouro da bicho-grilagem é a São Francisco maluca das décadas de 60 e 70. Músicos, escritores, poetas, pintores, e toda sorte de artista e vagabundo andavam por lá, atrás de uma penca de ácido pra ver vida mais colorida. Mas lá também é a fonte da magia musical do psicodelismo e dos seus desdobramentos. O som especial do Creedence vem de lá. Não é à toa que essa banda é seminal.

Em 1968 é lançado o primeiro disco do Creedence Clearwater Revival, tendo como título apenas o nome da banda, que foi retirado do nome próprio de um amigo de Tom Fogerty, Creedence Nubal, e de uma propaganda de cerveja: clearwater. O disco já trazia a pegada crua característica de algumas bandas do período. Além do som puro, valvulado, com amplificadores no talo, o Creedence tinha como amuleto o som rasgado da poderosa voz de John Fogerty, guitarrista solo, líder e compositor da banda.

Na realidade o Creedence é o resultado final de outras formações anteriores envolvendo John Fogerty, Stu Cook, baixista e Doug Clifford, baterista. Eles já foram The Blue Velvets, e Tommy Fogerty & The Blue Velvets, em 1959, e The Golliwogs, em 1964. Quando o selo Fantasy resolveu dar uma chance a eles o guitarrista base Tom Fogerty, irmão de John, tornou-se apenas integrante do grupo, o nome foi definitivamente trocado. Tom Fogerty já tinha um certo nome nas redondezas de “Frisco”, mas o seu som era muito careta, nada parecido com o que se tornaria o Creedence.

Guitarras Telecaster, Rickenbacker e Gretsch davam uma tonalidade de swamp rock, uma espécie de folk song eletrificado com rock’n’roll. Mas o Creedence era bem mais do que isso, era uma mistura de blues, resquícios do psicodelismo, música de protesto, improvisos e soft country. John Fogerty segurava a onda na frente da banda com seus solos pentatônicos e bluseiros e um vocal marcante, verdadeiramente impagável, com interpretações emocionadas e lendárias.

O primeiro disco da banda é um dos maiores discos de todos os tempos de vida do rock’n’roll, prenunciando uma carreira de muitas vendagens, sucesso de crítica e de público. Breve, com apenas sete discos oficiais, mas intensa, cheia de verdadeiros ícones da música pop universal. Várias gerações foram embaladas ao som do Creedence, que sempre manteve a sua pegada visceral e suas abordagens sociais e sentimentais.

O choque de egos decretou o fim da banda logo na primeira metade dos anos 70. O irmão Tom não aceitava o brilho intenso do líder. Tom morreu de aids - adquirida em uma transfusão de sangue, na década de 80 - sem falar com o irmão mais novo. Ambos tiveram alguns discos lançados individualmente. Tom era mais comercial e romântico. John é mais contestador e muito mais criativo e original, pena ele ainda sofrer problemas contratuais que o impedem de uma carreira mais profícua.

“I put a Speel on You” é uma balada estradeira fenomenal, arrasa quarteirões. Essa faixa é o cartão de visita de um dos maiores vocais do rock’n’roll. Coloque essa música no som do carro, em volume topado, pegue uma estrada reta, em cima da Chapada do Araripe, e encontre o nirvana, encontre o verdadeiro feitiço bradado a plenos pulmões por John. É sonzeira demais. Timbres limpos de guitarras, com leve trêmulo do ampli na guitarra de John e um vozeirão vindo do fundo da alma. Se você tá amando, cara, desesperadamente amando, redobre os seus sentimentos com esse mantra.

“Suzie Q” é um clássico, que na mão do Creedence ganhou vários minutos de improviso. John não é virtuoso, ele não frita o braço da guitarra feito rato de laboratório despombalizado. E é justamente por isso que ele é eficiente demais em seus solos sensitivos, embasados em puro sentimento musical. A banda faz a cama perfeita, com pegada na medida, nem peso demais e nem leveza demais. Imperdível. É pra balançar o cabeção o tempo inteiro.

O disco fecha com “Walk on the Water”, uma composição dos irmãos. Essa faixa tem o sabor de São Francisco, com um toque todo especial de fitas com rotações invertidas, bem ao gosto psicodélico, com direito a longa improvisação da banda. Não vou falar muito nem dessa e nem das outras faixas, justamente para você redescobrir esse tesouro. Os bons ventos anunciam reedições da discografia da banda, com remasterizações, faixas bônus e fotos inéditas. Dizem que é para o final do ano. É esperar pra comprar. Enquanto isso, aumenta aí, cara.

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