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domingo, 24 de agosto de 2008




Clássicos

A rua misteriosa dos Stones

“Exile on main St.” é o típico album de rock cheio de mistérios. A própria banda foi envolvida ao longo da história por uma áurea de esquisitices e lances obscuros. E esse é justamente um dos encantamentos dessa banda, que é considerada por muitos como a maior banda de rock de todos os tempos. Há controvérsias.

“Exile on main St.” foi concebido como um disco duplo, com 18 músicas divididas em quatro lados. O clima difuso do lp começa pela capa, cheia de pequenas fotos aleatórias, cheias de bizarrices. Tal qual foi a gravação desse disco, que é uma mistura de sobras de estúdio, gravações guardadas entre 1968 e 1972 e material novo, composto para o lançamento.

As gravações foram iniciadas em um antigo banker da gestapo durante a Segunda Guerra Mundial, alugado por Keith Richards. Nellcôte, um antigo palacete localizado no interior da França, próximo à Nice, foi o palco de muitas histórias malucas. A piração tomava de conta do guitarrista, mergulhado em milhares de dólares investidos em heroína e todo tipo de droga existente. Lá eles receberam inúmeras visitas mais malucas ainda, como a de Burroughs, poeta beat; do novelista Terry Southern, também beat; e do compositor de country-rock Graham Parsons, falecido pouco tempo depois, vitimado por overdose.

Bill Wymam e Charlie Watts estavam em abstinência. Mick Jagger esteve ausente quase que o tempo inteiro, recém casado e com filho recém nascido. Keith Richards estava solto e comandou praticamente tudo. A zoeira foi tamanha que a polícia teve que exigir a expulsão das visitas intoxicadas. Logo depois de encerrada a temporada na França, o material foi levado por Mick Jagger para Nova York, onde inúmeras overdubs foram feitas por diversos músicos.

O resultado disso tudo é uma massa sonora tipicamente stoneana. Rock, soul, blues, booggie, shuffle, western e baladas formam o caldo desse disco de mixagem tosca e som cru, com a bateria de Charlie Watts como porto seguro. Esse é um disco para ser escutado no volume máximo, pois os instrumentos foram gravados praticamente na mesma altura dos vocais, causando um certo caos devido ao excesso de overdubs em muitas faixas. Tudo resolvido com alguns decibéis desaforados do seu som.

Mick Taylor salva inúmeras faixas com a sua pegada bluseira. Vários artistas tocaram contra-baixo, mas todos sem nenhum destaque. A guitarra de Keith Richards às vezes soa como seminal e às vezes soa completamente descartável. Mas o todo tem uma pegada incrível, inexplicavelmente genial. Esse álbum tinha tudo para ser péssimo, mas no entanto é uma verdadeira obra-prima, fruto dessa dialética de interesses e estéticas sonoras de seus músicos. Mick Jagger nunca foi um grande cantor, mas ele encanta e aqui a sua magia aparece de forma suprema.

“Rock Off”; “Rip this Joint”; “Tumbling Dice”; “Happy”; “Sweet Virginia” e “All Down the Line” são verdadeiros mísseis atômicos. Com certeza essa não será uma audiência normal, pois você sentirá um ambiente sonoro narcotizado o tempo inteiro, além do detalhe de você não entender praticamente quase nada do que Mick Jagger berra. Com o tempo você percebe que existem arranjos fenomenais de rock’n’roll por trás de tudo isso. A coesão da banda está exatamente nesse clima enfumaçado, difuso e tosco de se fazer música para ser ouvida em todo volume. Definitivamente esse não é um disco para conservadores ou puristas. Esse é o puro rock, igualado ao mesmo som alcançado por bandas como Faces, James Gang, Hot Tuna, ZZ Top, Neil Young e Crazy Horse, The Band e Rod Stewart em seus primórdios.

“Exile on main St.” é imperdível por diversos motivos: é um disco que exala mistérios; é um disco que fornece segredos sonoros a cada audição; é uma massa sonora de tirar o fôlego quando escutada no talo; e acima de tudo, é rock’n’roll na veia, com todos os requintes que o gênero proporciona. Esse é o tipo de disco que se você escutar uma vez, você jamais se livra. É um verdadeiro vício.

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