Total de visualizações de página

domingo, 6 de maio de 2012

Clássicos





Que disco é esse, cara!!!???


Eu poderia comentar qualquer disco desse maluco, com ou sem Crazy Horse, que caberia numa boa. Neil Young é dono de uma discografia monumental. Esse é um artista extremamente significativo para qualquer uma geração que goste de música de boa qualidade. Mas o fato é que eu tenho uma relação toda especial com essa pedrada chamada Sleep With Angels. 1994 foi um ano em que fui acometido de uma melancolia muito pesada, que durou aí um bom tempo, foi a música e a leitura que me salvaram, pois eu não me interessa por mais nada além disso.

Há quem diga que essa foi uma busca de Neil Young em reviver velhos tempos com seus companheiros de viagem, responsáveis por momentos iluminadamente chapantes, como todos os seus álbuns da década de 70. Se foi isso mesmo ou não, a verdade é que Sleep With Angels tem baladas com violões mágicos, guitarras distorcidas, climas espaciais com solos inspirados e a pegada crua da banda Crazy Horse, esse disco é uma espécie de travessia de um deserto a bordo de um balão entre o final da tarde e o anoitecer .

Esse disco é também conhecido pela ligação direta de Neil Young com a carta de despedida de Kurt Cobain, em que um verso da música Hey Hey, My My (into the Black) é citado: “It's better to burn out than to fade away - É melhor queimar do que se apagar aos poucos”. A música sleep with angels é dedicada a Kurt e tem letra e timbragem que ondulam entre o soturno e o delicado. Essa música acaba de uma vez, deixando suspenso no ar o prematuro de um fim inaceitável.

Logo depois dessa música vem uma das baladas mais bonitas desse canadense mestre dos timbres valvulados, escute “Western Hero” de frente para um pé de serra, de preferência aqui no Cariri, de frente para Chapada do Araripe, que você terá uma experiência transcendental. Pois logo depois de ”Western Hero” vem “Change Your Mind”, o que é garantia total de um vôo pleno, por sobre mares, montanhas, rios e natureza humana, além dos desertos, é claro. O solo de Neil Young nessa música é uma ligação única com os arquétipos da guitarra, não é fritura, não é virtuose, não é técnica apurada, é apenas o verdadeiro espírito do rock dançando sobre o tempo, se deixando levar pela inspiração.

Feche os olhos e reflita sobre os dias atuais, sobre o cotidiano, sobre as coisas simples, e sinta por sobre os seus ombros os dias que se passam descontinuamente, e que de forma fragmentada marcam a sua passagem pela vida, bem como determinam suas ligações eternas com os vivos e os mortos. No fundo eles são as mesmas pessoas, todos nós carregamos nossos cadáveres em forma de unhas, cabelos, cílios, esperanças e metamorfoses. Se você trilhar sobre esse viés, você estará bem próximo da essência desse disco insubstituível, intransferível, inesquecível.

Se você escutou as faixas citadas aqui e ainda não se convenceu, escute então a próxima: “Blue Eden” e mergulhe na atmosfera mágica do blues elétrico em pessoa, forte, agressivo e desesperadamente inquieto. Aqui a guitarra lamenta existir apenas uma vez de cada vez. Pena é que ela é rápida demais. Não a guitarra, mas a música. Ainda bem que a viagem de Sleep With Angels não termina aí. Logo em seguida vem a líquida e vaporosa “Safeway Cart”, abordando a falta de perspectiva daqueles que nascem nos guetos. Música singela e dura.

Não comentei nem o início e nem o final do disco, que é pra você descobrir com quantas viagens se faz um disco de Neil Young. Esse é o vigésimo segundo disco dele e o sexto com a Crazy Horse. Esse é o tipo de disco que a gente tem que guardar na alma, que é para escutar na hora que bem entender.



 

Nenhum comentário: