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domingo, 9 de novembro de 2008









Clássicos







King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic
Uma nova linguagem no progressivo

Esse disco marca não só uma guinada na carreira do King Crimson, ele funda uma nova dinastia estética no rock, colocando Robert Fripp, de uma vez por todas, na galeria dos imortais, não aquela burocrata e patética das paradas de sucesso e das premiações da própria indústria fonográfica, mas aquela dos caminhos alternativos, experimentais e inventivos, a mesma em que estão cagando e andando para o mundo dos negócios: Frank Zappa; Hermeto Pascoal; Tom Waits; Ravel; Debussy; Egberto Gismonti; Bela Bartók; Cartola e tantos outros.

Larks’ Tongues in Aspic foi lançado depois do disco ao vivo Eahtbound, de 1972, que contém algumas perfomances no Estados Unidos, com uma formação de transição, ainda com Boz Burrel, Mel Colins e Ian Wallace, herdada do disco Islands, de 1971, então o último disco de estúdio da banda, que registrou orquestrações com sopros e linhas melódicas nitidamente dentro do padrão Beatles de cantar.

As menções aos Beatles já estavam no genial disco Lizard, de 1970, na música jazzística e cheia de dissonidos, Happy Family, que narra o fim da banda, em que na letra Paul é Judas; George é Silas; Ringo é Rufus e John é Jonah. Esses eram registros em que Robert Fripp aparecia com guitarra com timbre limpo e tocando violões diversos. Os arranjos dessa fase da corte do rei Crimson, eram pautados no jazz e na música clássica de vanguarda, com fugas e contra-pontos desconcertantes. O som era leve, privilegiava os timbres mais acústicos e as sonoridades elétricas de cordas do mellotron, além dos diversos aspectos experimentais e psicodélicos.

Então a banda é toda mudada e o som também. Com Robert Fripp tocando mellotron, violão, parafernálias eletrônicas e uma guitarra lancinantemente distorcida, acordes dissonantes, saltos de cordas e intervalos alucinados em seus solos metafísicos, a banda formada por Bill Bruford na bateria; John Wetton no baixo e voz; David Cross nos violinos, violas e mellotron; e Jamie Muir nas percussões diversas; dá à luz um dos mais importantes discos da música universal. Esse é um disco fundante e fundamental. É o disco quem tem o peso de um mamute e a leveza de uma pluma. E acima de tudo, é um disco que tem história para contar, basta detoná-lo no headphone.

A estética de Larks’ Tongues in Aspic é essencialmente experimental, climática e cheia de dinâmicas orquestrais, aliada a um peso, a uma massa sonora jamais vista até então no rock progressivo. As colagens, o estranhamento, as intervenções, a circularidade, a fragmentação e a descontinuidade, bem como os ruídos e as escatologias diversas, típicas do universo sonoro de Robert Fripp, são matizadas aqui ao extremo. O abstracionismo e a concretude de vanguarda, na linha de Edgar Varese e Bela Bartók, estão presentes, de forma dialética, transformando a pasmaceira em inquietude.

Até no tempo total de música, 46’: 45’’, o disco é enigmático. A química da banda é um caso à parte. Músicos de longa estrada e da cena de vanguarda deram uma sustentabilidade sonora inigualável, embora porcarias como Dream Theatre e outras do gênero tentem imitar na maior cara-de-pau do mundo. A cama sonora feita por Bruford, Wetton e Muir, com uma complexa teia rítmica e timbrística, proporcionam a Fripp e Cross um universo inteiro de experimentações e devaneios.

Uma vez eu li numa revista dessas aí, Humberto, aquele imbecilóide maior da gosma Engenheiros do Havaí, afirmando que dava graças a Deus nenhum baterista seu ter influências do timbre de caixa utilizado por Bill Bruford. Ainda bem. Esse é um som para poucos, não é para quem tem ouvidos, é para quem escuta. As passagens de guitarra e violino são de arrepiar, bem como os arranjos de percussão e baixo, faixas como “Lark’s tongues in aspic”, parte I e II e “Talking Drum”, são de impressionar, tamanha a dinâmica, a concepção estética e a atitude musical.

Vale ressaltar aqui que “Lark’s tongues in aspic” , um dos maiores clássicos do rock progressivo, tem na realidade quatro partes e um Coda. A terceira parte apareceu em 1984 no disco Three of a Perfect Pair, sendo a última faixa do disco, com uma estética eletrônica e absolutamente experimental, com as mesmas células rítmicas da parte I. Essa formação tinha Adrian Belew, Tony Levin e Bill Bruford. A quarta parte e o Coda apareceram em 2000, no disco The ConstruKction of Light, sendo a parte vocal "I Have a Dream", colocada no final. Essa formação tinha Belew e mais Trey Gunn e Pat Mastelotto.

O disco traz, além das duas partes de “Lark’s tongues in aspic” e de “Talking Drum”, a belíssima e sentimental “Book of Saturday”, confirmando a veia baladeira de Fripp, e a clássica “Easy Money”, que contém um dos solos mais inspirados de Robert Fripp, além de um clima e dinâmica descomunal. A pegada dessa música é para detonar os auto-falantes, peso e experimentação de altíssimo nível. O clima de “Talking Drum” é deliciosamente épico e surreal, com os solos aloprados de Cross e Fripp, resume o próprio disco, como sendo uma peça imperdível, autêntica e altamente contemporânea, com quase quarenta anos de existência.

Um comentário:

Dihelson Mendonça disse...

Marcos leonel, estou tentando entrar em contato contigo pelo seu celular fornecido da OI, e só dá desligado ou fora de área. Precisamos gravar o mais rápido possível, amigão! veja aí um novo número ou como posso fazer para te localizar!

URGENTE,

Dihelson Mendonça