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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Achados e Perdidos

Lar de Maravilhas
É onde moram as máquinas progressivas


1975 é praticamente o auge do rock progressivo, com os grandes nomes do gênero lançando discos importantes. Muita baboseira já foi escrita sobre o rock progressivo, tanto de bem como de mal, tanto fora como dentro da mídia especializada, mas ainda falta uma revisão coerente desse período, com reconsiderações urgentes. O disco “Lar de Maravilhas”, da banda paulista Casa das Máquinas faz parte diretamente dessa revisão, como sendo um verdadeiro achado.

A banda foi formada a partir da desintegração dos Incríveis. Netinho e Aroldo Binda formaram aquela que seria a banda para satisfazer musicalmente os dois. Carlos Geraldo, Piska e Pique completaram a primeira formação do grupo, responsável pelo primeiro disco, em 1974, chamado apenas de “Casa das Máquinas”, ainda com uma pegada pop, na linha dos Incríveis. Algumas mudanças aconteceram e a banda lançou essa maravilha.

Com a saída de Pique, que era saxofonista e tecladista, entraram mais um baterista, Marinho Thomaz, irmão de Netinho e um tecladista, Mário Testoni Jr. A parafernália eletrônica e o estilo rebuscado de Testoni deram um impulso progressivo ao grupo, que mudou completamente o visual e o som. As guitarras de Aroldo e Piska ficaram mais viajadas, cheias de efeitos e harmonias etéreas. O baixo de Geraldo segurou a onda em grande estilo, sem dever nada aos grandes nomes do gênero.

O resultado dessa experiência musical é um dos mais interessantes discos do rock progressivo brasileiro. O timbre de órgão Hammond e os sintetizadores são fenomenais. As guitarras são coesas, com vários contrapontos e climas dinâmicos. As duas baterias são casadas com perfeição milimétrica e em alguns casos elas se estendem em funções diversas, criando uma textura musical muito massa. As letras não deslizam no besteirol típicos do gênero, mas ainda sublinham lugares-comuns, com algumas imagens telúricas já diluídas em letras de bandas com o referencial do Yes.

Existem nesse disco alguns momentos acústicos de beleza rara. A melodia de “Lar de Maravilhas” é qualquer coisa de deslumbrante. É um clima propício para se conhecer outras galáxias. Definitivamente essa é uma música para se ouvir sozinho, com direito a incenso e escuro. “Cilindro Cônico” é outra viagem imperdível, com aquele timbre de Hammond liderando a melodia e aquele timbre de baixo profundo. “Vale Verde” é também cheia de climas viajantes, com destaque para os sintetizadores diversos e um solo de guitarra excelente, carregado de efeitos.

“Vou morar no ar” fez muito sucesso e com razão. É claro que o suporte da rede Globo foi fundamental, com a faixa chegando a fazer parte de trilha de novela. A Som Livre, através de João Araújo, pai de Cazuza – que escreveu o release do disco – investiu pesado na banda, colocando no fantástico, no Sábado Som e posteriormente no Rock Concert. Houve também uma tentativa de lançar a banda internacionalmente. Nesse período o Casa das Máquinas tinha uma superestrutura, com aparelhagem de som pesado, com jogo de luz e cenários. As duas baterias causavam impacto, bem como o visual da trupe.

Mas o hit se justificava pela qualidade da composição. O clima cinematográfico do início da faixa, com aquelas passadas, a chuva, o trovão e as batidas na porta, fez e faz parte do imaginário coletivo da lisergia nacional. O clima espacial da faixa, com aquela guitarra embalada por um dos whas mais espertos do período, também entraram para história. Essa é uma faixa imperdível. Ao contrário de “Lar de Maravilhas”, essa é para ser ouvida no talo, com o amplificador pedindo perdão.

Outra faixa sensacional é “Epidemia de Rock”, com uma introdução de bateria simplesmente arrasadora, duas baterias em sintonia fazendo uma convenção super-pesada. Escute e tenha em mente um momento histórico dessa banda que lançou quatro discos, sendo três pela Som Livre e um independente. O último disco oficial da banda, “Casa de Rock”, é também sensacional. A banda voltou recentemente, com alguns integrantes da formação original, para uma apresentação no Festival Psicodália de Carnaval 2008 em 3/2/2008 na serra do Tabuleiro em Santa Catarina e prometeram lançar material novo.

Para Download : http://www.mediafire.com/?9c0dwnywyyz

4 comentários:

Rodolpho disse...

Coloquei o primeiro no som aqui para ler e escrever meu comentário. É o único que tenho original!
A primeira faixa "A Natureza" dá uma falsa esperança que o disco vai ser uma paulada... triste constatação... mas vale demais ter em casa.
Acho que todos três saíram pelo mesmo selo na época em vinil, mas só o primeiro saiu em CD pela Som Livre, aqui em Fortaleza fazia lama no centro.

Enquano ao "Lar" sou completamente doido por esse disco e a esperança agora é de um selo francês que o reeditou, vai ser o jeito importar mesmo =/

Essa volta também garantiu apresentação deles na Viarada Cultural em Sampa que contou com toda a nata do progBR : Som Nosso, Mutantes, O Terço(com Flávio e Magrão), Sá,Rodrix e Guarabyra, outros muitos... acho que só faltou Terreno Baldio!

Marcos tenta assistir o filme "1972 ", é nacional, da jornalista Ana Maria Baiana. Assisti ontem, tentei gravar e não deu certo, vou alugar de novo e tentar gravar com alguém mais por dentro desses assuntos :D

O filme narra o início de um namoro totalmente musical, rockeiro, melhor dizendo, se conhecem no cinema para assistir um filme dos Rolling Stones... aí entra os milicos interferindo na história,etc...
O legal é que a Ana Baiana faz tipo uma homenagem A Bolha no filme, considerada a melhor banda de rock do Rio na época, até o Gustavo, batera, faz uma pequena cena no filme... muito bom, assista!

Abração brother :D

Rodolpho disse...

Citei O Terço e esqueci de dizer que ontem fui ao show do 14 Bis... meu irmão fiquei na saudade total, não sai da cabeça, o Flávio sabe o que é guitarra, o cara é doente, deve ser daqueles que deixa de transar pra tocar hehehehe...
Nunca vi uma afinação daquela, esperava uma execução bastante em cima das gravações originais, igual ao DVD deles que saiu recentemente, mas nada teve espaço pra improviso e tudo de todos!!

Quero muito que eles voltem aqui, uma cidade desse tamanho e eles passam sete anos para retornar, fogo!

O pior é que no meio do show foi que lembrei que deveria ter levado meus CDs do Terço pro Magrão autografar, agora só na próxima :D
Tomara!!

Marcos Vinícius Leonel disse...

Cara, o primeiro disco é ruim demais, é aquela onda dos Incríveis, pop-brega, com umas letras horríveis. Só tem mesmo "A Natureza".

Agora, lar de Maravilhas é demais, eles estiveram aqui no Crato ainda como Incríveis e já tocaram com duas baterias e uma puta aparelhagem, e tocaram músicas do primeiro disco do Casa e um monte de Covers do rockão dos anos 70.

Eu não entendo mesmo como é que o 14 bis pode ser tão diferente em shows do que é em discos. A banda é massa ao vivo.

Comprei o último disco do Terço, com essa nova formação, o disco é do caralho.

valeu cara

Gustavo Henrique disse...

Em minha opinião, este é o melhor dos álbuns já lançados pela Casa das Máquinas. Dentre os discos nacionais que se destacaram no pretensioso gênero progressivo, não se mostra, entretanto, na mesma posição ocupada pelos álbuns Matança do Porco, do Som Imaginário, e Snegs, do Som Nosso de Cada Dia. O Matança é repleto de elementos jazzísticos, tanto que me lembra, certas vezes, traços das bandas progressivas da Cantuária, sem, obviamente, toda a ousadia que circulava entre os músicos que compuseram a cena musical dessa região. Quanto às músicas do Lar de Maravilhas, Cilindro Cônico melhora bastante após os 2min15s iniciais. Inicia-se uma comunicação massa entre guitarra e Hammond, marcada por uma bateria aguerrida. Outro ponto alto do disco é a música Vale Verde, que revela muita influência dos medalhões do progressivo europeu. Tirante as músicas já citadas e a Lar de Maravilhas, o restante, em minha opinião, é fraco. A audição do conjunto é, entretanto, necessária.

Um abraço, Leonel, e até outros comentários.