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terça-feira, 8 de julho de 2008

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UM LIVRO HISTÓRICO

“História Social da Música Popular Brasileira” é o que se pode chamar de obra de fôlego, escrito por quem conhece do assunto e tem uma perspectiva fenomenal sobre as incidências dos fatos que compõem o momento histórico na formação estética, na criação e propagação dos produtos musicais e suas relações com o mercado.

Nesse livro, José Ramos Tinhorão, velho conhecido dos chavões da música popular brasileira, faz um verdadeiro apanhado científico da formação musical brasileira. É um livro escrito para o mercado europeu e depois lançado no Brasil. Apesar do aspecto cientificista, de ensaio sociológico e antropológico, Tinhorão não larga mão do seu estilo crítico, radical e intolerante.

Em “História Social da Música Popular Brasileira”, Tinhorão analisa meticulosamente os momentos históricos referentes a cada período da formação musical brasileira, desde o período da colonização até o período do Tropicalismo. Existem nessa obra uma riqueza de detalhes e um caráter de pesquisa impressionantes. A análise paralela que ele faz do mercado fonográfico face ao desenvolvimento do capitalismo e da tecnologia é de uma lucidez sem tamanho.

Pode ser que para o apreciador apenas da música, sem intuito de pesquisa, a linguagem seja muito acadêmica e o estilo muito pesado. Realmente não existe em nenhuma parte desse livro qualquer possibilidade de bom humor, ironia ou cinismo. O livro é escrito em tom didático o tempo inteiro. Para quem quer se aprofundar na estruturação do imaginário musical brasileiro, bem como na formação cultural de um povo através da música, essa é a pedida exata.

Os primeiros capítulos, das partes I, II e III, referentes respectivamente à Cidade em Portugal; Brasil Colônia; e Brasil Império, assumem aquela velha tonalidade monográfica, tornando a leitura muito sacal. Mas é só passar essas partes que o livro toma corpo e clima. O restante da leitura é gratificante, embora muito maçante em algumas outras passagens esporádicas.

Agora nem tudo o que reflete nesse livro tem brilho. É necessário que o leitor saiba quem é Tinhorão e entenda o seu radicalismo, por vezes exagerado, por vezes descartável. Tinhorão é respeitado e admirado por muitos, como também detestado e execrado por outros tantos. São conhecidas demais as suas rixas públicas com Caetano Veloso, Chico Buarque e vários outros artistas. O extremismo de Tinhorão tem as cores, muitas vezes, do leninismo, com um socialismo ultrapassado e piegas, cheio de xenofobismo e aversão aos experimentalismos.

O capítulo sobre o Tropicalismo é muito interessante, a partir da análise precisa que o autor faz do momento histórico, da evolução política e tecnológica, bem como do monopólio da chamada cultura de massas. No entanto, a visão particular que ele dedica ao resultado final do fenômeno tropicalista, chega a ser hilariante, sem a menor condescendência à interação cultural entre os povos, negando o processo de globalização como se fosse racional fazê-lo.

Ele trata as tendências pop, via rock, como uma manifestação das trincheiras americanas de aculturamento das nações submissas, com aquela concepção pueril de que o guaraná é muito melhor do que a coca-cola e que um tango pega bem melhor que um blues. Mas isso é o de menos, pois esse é um livro de fato mais do que recomendável, ele é insubstituível, até o momento.

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