Total de visualizações de página

terça-feira, 15 de julho de 2008



THE MARS VOLTA - AMPUTECHTURE

Os malucos Omar Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler-Zavala já lançaram o quarto álbum do seu caldeirão sonoro: “The Bedlam In Goliath”, com a mesma pegada visceral dos seus outros três discos anteriores, provando que o sistema solar inteiro é deles e que eles formam a banda mais interessante do novo milênio. Mas eu não posso falar do novo disco, sem antes pagar uma para o penúltimo disco “Amputechture”, uma porrada no estômago da mesmice.

O que o The Mars Volta faz é tudo aquilo que faltava nessa merda de mercado viciado em reproduções e diluições. Alguns dizem que é progressivo, o que a banda não admite; outros babacas chamam de art rock, coisa que nem existe, é invenção de crítico imbecil, que precisa justificar o salário. Outros dizem que é música alternativa e tal e tal e tal. Na verdade o som é diferente e não tem como rotular. Sem dúvida existe uma dose generosa de rock progressivo, mas misturado a uma série de coisas.

Omar Rodriguez-Lopez é um tremendo guitarrista, na concepção da palavra. Nem é masturbação sonora de escalas, como os debilóides da linha do Dream Theatre e perfumarias semelhantes, nem é aquele minimalismo patético do indie rock, que mistura Clodovil com Bartô Galeno, com linhas de guitarra mais duras do que paralelepípedo. É técnica com talento. Cedric Bixler-Zavala canta por que tem voz e sabe cantar. Colocar a voz no turbilhão sonoro do Mars é só para quem sabe. Se você acha que o som dessa banda tem alguma coisa haver com aquela fantasmagoria indie, com suas miadeiras plasmáticas e voz do tamanho de uma caixa de fósforo, esqueça. É alternativo, mas todos são músicos de verdade. Aqui não existe pose, existe som.

The Mars Volta é oriundo das bandas At The Drive-In e De Facto. Linhas de jazz rock, ambientações progressivas, timbres alucinados, vocais lisérgicos e dissonâncias psicodélicas são comuns na linguagem dos marcianos. Os discos sempre têm participações especiais, principalmente dos pirados do Red Hot Chilli Peppers, Flea, no primeiro disco, uma obra prima, “De-Loused in Comatorium” e Frusciante nesse em questão, “Amputechture”, outra obra prima. A banda não é tão constante com bateristas, mas todos dão o maior gás Nesse disco as baquetas são agitadas por Jon Philip Theodore. O baixo ainda está por conta de Juan Alderete e os teclados nas mãos milagrosas de Isaiah Ikey Owens.

“Amputechture” traz o mesmo clima conceitual das letras, embora nem todas, dos discos anteriores. As faixas são longas, como sempre, e viajantes como sempre. O universo sonoro do Mars é feito de esquisitice e tensão musical. Guitarras agressivas, às vezes com efeitos retrô, às vezes limpas, só com a força dos amplis. O doido toca no talo suas escalas pentatônicas, modais, melódicas, menores, diatônicas e atonais. Cedric tem uns falsetes de entortar, desemprega qualquer cantor de cover. Apesar dos climas criados, com ambiências e texturas diversas, existe um groove delicioso no Mars Volta, típico das grandes bandas.

Omar Rodriguez sabe usar os pedais como poucos. Cria uma cama de fragmentos melódicos e riffs poderosos, através de um intenso trabalho de delays. Sua pegada tem punch e nexo. Baixo e bateria em “Amputechture” dão um verdadeiro show particular de peso, através de muitas mudanças de andamento e convenções de empenar qualquer apresentação ao vivo. A mixagem da bateria é bem na frente, teclados e baixo foram mixados um pouquinho mais baixos. A guitarra também fica na frente, enquanto que os vocais de Cedric estão pouco acima dos instrumentos, formando uma massa sonora de impressionar.

O disco inteiro é duca, com mais de uma hora de delírio musical. A partir da capa, como sempre, o disco é uma experiência sonora difícil de ser esquecida. A primeira audição de qualquer disco do Mars é sempre estranha, para quem não tem esse tipo de informação musical, mas depois que você descobrir os inúmeros caminhos auditivos, você vai realmente conhecer marte. Os meus destaque vão para “Tetragrammaton”, “Vermicide”, a passional “Asilos Magdalena” e a ultra psicodélica “Day of the baphomets”. Esse é um disco que não tem preço. É novo mas não é paia. Eu digo: obrigatório.

Nenhum comentário: