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quarta-feira, 16 de maio de 2012


AOS VIVOS


RORY GALLAGHER – Irish Tour

Existe uma estátua de Rory Gallagher em sua cidade natal, Ballyshannon, como também existe lá um festival anual em sua homenagem. Esse ano o Rory Gallagher Tribute Festival Internacional acontece entre quinta-feira, 31 de maio, e domingo, 03 junho de 2012. Mas, isso ainda é pouco para ilustrar a genialidade desse guitarrista irlandês.




Além de um estilo próprio, o que não é fácil no universo das guitarras, Rory Gallagher tinha uma técnica apurada, sem ser pomposo, sem ser enfadonho, e, principalmente, sem ser um manézão da guitarra, que despeja trezentas escalas por minuto, quatrocentas alavancadas por segundo e ainda arranja tempo para arrumar o cabelo para foto, tirada por outro manézão da plateia, que balança desesperadamente a cabeça para ver se ela pega no tranco.

Irish Tour é uma das maiores obras do rock. É um daqueles discos que você deve ter sempre dois exemplares para prevenir qualquer imprevisto. Esse, de fato, é um disco vivo, e eterno. Irish Tour foi registrado em janeiro de 1974, com gravações escolhidas dos shows: Belfast’s Ulster Hall, Dublin’s Carlton Cinema and Cork’s City Hall. Em plena forma, Rory Gallagher desfila aqui o seu fraseado energético e seu timbre apologético.




São raros os guitarristas que sabem para que serve o botão de volume da guitarra. Também são escassos aqueles guitarristas que sabem explorar todos os timbres de um amplificador valvulado, e sem precisar de uma parafernália de periféricos e microfones customizados e combinações bizarras e processamentos alienígenas de sinais. Apenas guitarra, amplificador e talento. Rory Gallagher é um deles. Um verdadeiro mestre da pegada. Além de tudo isso, a sua apresentação era incendiária e o seu carisma era um verdadeiro show à parte.

A banda é apresentada logo ao fim da primeira música: “Cradle Rock”, do disco “Tattoo”, lançado em 11 de agosto de 1973. Com Rod De’Ath (drums) Lou Martin (keyboards) and Gerry McAvoy (bass), Rory Gallagher apresenta o seu cartão de visitas em grande estilo, com direito a um solo visceral de slide, em sua legendária Fender desbotada. Esse é o início de uma viagem histórica do blues/rock. O que vem depois é puro sentimento de um autêntico band lead.

A segunda faixa é um clássico de Muddy Waters, iniciado só com a guitarra de Rory chorando a crueza do blues, nessa pequena passagem inicial, é possível você perceber a maestria nos timbres cristalinos de Rory Gallagher, que vai fundo nas válvulas e nos captadores, somente, o resto é pegada, velho. Pegada. Isso é o que faz um guitarrista entrar para a história. Com certeza você já escutou vários solos de blues. O dele, em “I Wonder Who” é seminal. Escute e você será contaminado. Em determinado momento é possível ouvir de fundo um chiado, comum em captadores single coil e amplificador valvulado no talo.



“Tattoo’d Lady” é a terceira faixa, também oriunda do disco “Tattoo”. Esse é um rock’n’rrol básico, cru, daqueles que você lembra a melodia quando está trabalhando e lamenta a falta de tempo ideal para curtir o que há de bom na vida. Não tem como você ouvir essa música de forma impassível. Logo em seguida vem “Too Much Alcohol”, do lendário guitarrista de blues americano J. B. Hutto, outro mestre do slide. Clima imperdível. Claro que Rory apresenta seu slide.

“As the Crow Flies” é uma daquelas faixas acústicas tidas como obscuras, mas que de secundárias não têm nada. Essa é uma faixa emocionante. Toda vez que a escuto eu não me conformo com a morte prematura desse cara. Sacanagem, tanto político calhorda que já devia ter os olhos comidos pelos urubus... “A Million Miles Away” começa com o verdadeiro timbre da Fender, com harmônicos flamejantes e solo inspirado demais.

Também do disco “Tattoo”. Essa é uma balada daquelas históricas. A metáfora de vento e vela é propícia demais para essa faixa. Aqui é possível entender o que esse guitarrista tem de muito especial, o solo explorando o volume da guitarra não é pra qualquer um. É uma faixa que tem uma melancolia inevitável, pela letra, pela melodia e pelas dinâmicas da banda. Estou escrevendo agora profundamente emocionado, ele está à milhas de distância, indo, e eu também. Vou parar por aqui...

Escute o disco todo e não perca a oportunidade de visitar a página oficial desse mestre, que é magistral, com muita informação e muito material histórico: http://www.rorygallagher.com/






terça-feira, 8 de maio de 2012


CLÁSSICOS



ÁGUIA NÃO COME MOSCA – Azymuth
Instrumental brasileiro nas alturas

Esse é o segundo disco da banda brasileira de jazz fusion, lançado em 1977, no auge desse gênero, com grandes nomes lançando discos excepcionais por toda a década de 70 e início da década de 80. Os rótulos se multiplicavam na mídia especializada, assim como as críticas favoráveis e desfavoráveis. Os brasileiros não só estavam inseridos nesse cenário, como também já eram muito respeitados pela habilidade harmônica, pela inventividade e pelo exímio domínio da linguagem instrumental.

Enquanto parte da crítica internacional torcia o nariz para as misturas, nomes como Azymuth, Oregon, Egberto Gismonti, Wayne Shorter, Raul de Souza, Airto Moreira, Gato Barbieri, Caldera, Shakti, entre outros, misturavam o jazz com culturas diversas e se alinhavam a outros que misturavam o jazz com o rock, o funk, o sol e o blues, tais como Weather Report, Stanley Clarke, Larry Coryell, James Blood Ulmer, Mahavishnu Orchestra, L.A. Express, Passaport, Pat Martino, Chick Corea, e vários outros,  lançavam uma obra prima atrás da outra, independente do que os puristas pensavam, ou pensam, tanto faz.

Ouvir “Águia não Come Mosca” não é voltar no tempo, nem muito menos destilar um saudosismo inoportuno de como a década de 70 era mágica, mas sim, confirmar o fôlego criativo de uma banda que está na ativa até hoje. Falo de excelência, não falo de caretice burocrática e cerebral de um Wynton Marsalis desses, saído de uma escola quartel qualquer, movido a purismo flatulento e mecanicismo instrumental, que resulta em uma máquina de reproduzir escalas em alta velocidade. Falo de manha, falo de suingue, falo de criatividade com virtuosismo pleno.


O trio José Roberto Bertrami, Alex Malheiros e Ivan Conti, respectivamente: teclados, baixo e bateria, antes de formarem a banda Azymuth, já tinha em seu currículo uma série de participações em discos de artistas importantes do cenário da música brasileira. Nesse sentido vale a pena conferir a sonoridade espetacular de discos como “Eu quero é botar o meu bloco na rua”, de Sérgio Sampaio, e “Alucinação”, de Belchior. Os timbres de piano fender com chorus, baixo fretless e bateria encorpada, mais para o rock do que para o jazz, fizeram a ambiência de muitas viagens sonoras.

Eu sempre achei o som dessa banda muito especial, com capacidade total de hipnotizar qualquer um, com força suficiente para chapar. Assim que comprei o LP, passei a pancada sonora para uma fita cassete cromo, tdk, e fomos ouvir subindo a serra, em busca do Serrano, um clube campestre aqui do Crato, no famoso Corcel I, marrom, do meu amigo Boris. Desde esse dia célebre, foram inúmeras viagens e mais viagens na companhia de Azymuth, de Boris, de Etym e de Cândido Filho. Em pleno 1977.

A primeira faixa é uma singela melodia, viajandona que só: Vôo sobre o horizonte, depois disso, até à faixa 10, é puro suingue brasileiro, misturando samba, bossa, afro, jazz, funk e mpb. Essa é uma das cozinhas mais perfeitas do instrumental brasileiro, uma mistura de pegada visceral e sutileza, com muita síncope e explorações de tempos fracos e contratempos, em texturas rítmicas embriagantes. Destaques para “Águia não come mosca”, “Tarde”, “Despertar”, “Tamborim, cuíca, ganzá, berimbau”,  “A presa” e “A caça”. A sonoridade da banda nessa produção lembra os timbres de teclados de Herbie Hancock e The Jeff Lorber Fusion, com levadas funk.

A mistura de samba fica por conta da adição de Ariovaldo, Nenem, Doutor e Jorginho, na percussão brasileira, que tem o seu apogeu na última faixa: “Águia negra x Dragão negro”, com a adição de uma torcida vibrando em plena vibração no Maracanã. A gravação analógica deixa essa obra prima com uma sonoridade única e intransferível.

domingo, 6 de maio de 2012

Clássicos





Que disco é esse, cara!!!???


Eu poderia comentar qualquer disco desse maluco, com ou sem Crazy Horse, que caberia numa boa. Neil Young é dono de uma discografia monumental. Esse é um artista extremamente significativo para qualquer uma geração que goste de música de boa qualidade. Mas o fato é que eu tenho uma relação toda especial com essa pedrada chamada Sleep With Angels. 1994 foi um ano em que fui acometido de uma melancolia muito pesada, que durou aí um bom tempo, foi a música e a leitura que me salvaram, pois eu não me interessa por mais nada além disso.

Há quem diga que essa foi uma busca de Neil Young em reviver velhos tempos com seus companheiros de viagem, responsáveis por momentos iluminadamente chapantes, como todos os seus álbuns da década de 70. Se foi isso mesmo ou não, a verdade é que Sleep With Angels tem baladas com violões mágicos, guitarras distorcidas, climas espaciais com solos inspirados e a pegada crua da banda Crazy Horse, esse disco é uma espécie de travessia de um deserto a bordo de um balão entre o final da tarde e o anoitecer .

Esse disco é também conhecido pela ligação direta de Neil Young com a carta de despedida de Kurt Cobain, em que um verso da música Hey Hey, My My (into the Black) é citado: “It's better to burn out than to fade away - É melhor queimar do que se apagar aos poucos”. A música sleep with angels é dedicada a Kurt e tem letra e timbragem que ondulam entre o soturno e o delicado. Essa música acaba de uma vez, deixando suspenso no ar o prematuro de um fim inaceitável.

Logo depois dessa música vem uma das baladas mais bonitas desse canadense mestre dos timbres valvulados, escute “Western Hero” de frente para um pé de serra, de preferência aqui no Cariri, de frente para Chapada do Araripe, que você terá uma experiência transcendental. Pois logo depois de ”Western Hero” vem “Change Your Mind”, o que é garantia total de um vôo pleno, por sobre mares, montanhas, rios e natureza humana, além dos desertos, é claro. O solo de Neil Young nessa música é uma ligação única com os arquétipos da guitarra, não é fritura, não é virtuose, não é técnica apurada, é apenas o verdadeiro espírito do rock dançando sobre o tempo, se deixando levar pela inspiração.

Feche os olhos e reflita sobre os dias atuais, sobre o cotidiano, sobre as coisas simples, e sinta por sobre os seus ombros os dias que se passam descontinuamente, e que de forma fragmentada marcam a sua passagem pela vida, bem como determinam suas ligações eternas com os vivos e os mortos. No fundo eles são as mesmas pessoas, todos nós carregamos nossos cadáveres em forma de unhas, cabelos, cílios, esperanças e metamorfoses. Se você trilhar sobre esse viés, você estará bem próximo da essência desse disco insubstituível, intransferível, inesquecível.

Se você escutou as faixas citadas aqui e ainda não se convenceu, escute então a próxima: “Blue Eden” e mergulhe na atmosfera mágica do blues elétrico em pessoa, forte, agressivo e desesperadamente inquieto. Aqui a guitarra lamenta existir apenas uma vez de cada vez. Pena é que ela é rápida demais. Não a guitarra, mas a música. Ainda bem que a viagem de Sleep With Angels não termina aí. Logo em seguida vem a líquida e vaporosa “Safeway Cart”, abordando a falta de perspectiva daqueles que nascem nos guetos. Música singela e dura.

Não comentei nem o início e nem o final do disco, que é pra você descobrir com quantas viagens se faz um disco de Neil Young. Esse é o vigésimo segundo disco dele e o sexto com a Crazy Horse. Esse é o tipo de disco que a gente tem que guardar na alma, que é para escutar na hora que bem entender.



 

terça-feira, 29 de junho de 2010


Terreno Baldio volta à ativa com shows na capital paulista
Lizandra Pronin


Formada no início dos anos 70, a banda de rock progressivo Terreno Baldio lançou dois álbuns - "Terreno Baldio" e "Além das Lendas Brasileiras" - para depois encerrar as atividades. Mais tarde, na década de 90, se reuniram para relançar o primeiro álbum, desta vez em inglês.Mais de trinta anos depois da estréia, o grupo está de volta. O primeiro álbum ganhou uma versão em CD, remasterizada por Cesare Benvenuti, que produziu os dois primeiros discos da banda.A formação atual do Terreno Baldio conta com João Kurk (voz), Mozart Mello (guitarra), Roberto Lazzarini (teclados), Edson Ghilardi (bateria), Geraldo Vieira (baixo) e Cássio Polleto (violino).O Terreno Baldio tem dois shows marcados na capital paulista: no dia 01 de julho se apresenta no Wild Horse e no dia 14 do mesmo mês, no SESC Vila Mariana. Confira o serviço dos shows:


01/07/2010 - São Paulo/SPWild Horse Music Bar - Al. dos Pamaris, 54Horário: 21h00Ingressos: R$ 12,00Informações: 11 5049-1171 / http://www.wildhorsemusicbar.com.br/


14/07/2010 - São Paulo/SPSESC Vila Mariana - Rua Pelotas, 141 Horário: 20h30Ingressos: R$ 12,00 (inteira), R$ 6,00 (meia) e R$ 4,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes)Informações: 11 5080-3000


Notícia capturada em 29/06/2010, no excelente site: http://www.territoriodamusica.com/rockonline/noticias/?c=23256

quinta-feira, 24 de junho de 2010




Clássicos

Nuvem Cigana
Lô Borges


Esse disco faz parte de inúmeras listas dos discos inesquecíveis da música brasileira e universal, por se tratar de uma verdadeira inspiração delicada e complexa, sem alardes e sem malabarismos. Esse é o jeito de ser e estar do Clube da Esquina: ambientações etéreas, camadas sonoras, encadeamentos harmônicos inusitados e muito clima para viajar nas letras, nas melodias e nas sonoridades.

Nuvem Cigana é o quinto disco de Lô Borges, nascido como Salomão Borges Filho, em 1952, em BH. Lô Borges é dono de algumas raridades musicais brasileiras, cheias de uma sensibilidade privilegiada. Com Milton Nascimento, em Clube da Esquina, lançado em 1972, ele espantou os velhos jargões, com apenas 19 anos. Em seu primeiro disco solo, lançado em 1973, Lô Borges - o conhecido disco do “tênis”, ele ousou e experimentou, além do seu tempo. Em A Via Láctea, de 1979, ele mergulhou na mais pura harmonia. Com Os Borges, de 1980, ele revelou intimidades. Em 1982, com Nuvem Cigana, ele deitou em uma cama de sonhos e deixou o encantamento lá.

Delicadeza é a melhor tradução para esse disco. Palavras como nuvem, sol, vento, ares, voar, sonhar estão presentes em todas as faixas. Todas ao mesmo tempo ou em grupos interligados. Mas esse é um disco para fazer voar, nunca para revoar. Aqui o espanto fica por conta da descoberta de inúmeros detalhes, que vai acontecendo ao longo das audições. Esse é um disco de espaços, para ser ouvido no volume máximo, ao pé de uma serra, se for a da Flona, melhor ainda. Esse é um disco de harmonias em cascatas, que se derramam sobre seres vivos e ativados. Esse é para emocionar, para sentir saudade, para se completar em outra parte.

Nas dez imperdíveis músicas de Nuvem Cigana você vai encontrar um pouco de Beatles, um pouco de rock progressivo, um pouco de jazz, um pouco de música clássica, um outro pouco de música sacra, mais ainda um pouco de vocais inusitados, mas nenhuma obviedade e nenhum clichê imediatista da mbp. Além disso, você vai encontrar um montão de talento e generosidade lisérgica, que vai garantir a sua viagem para qualquer lugar mágico. A primeira audição desse disco pode não impressionar, pois ele é feito de detalhes. Se a música em sua vida não é apenas uma trilha de comercial, esse disco é uma verdadeira reserva de criatividade especial.

Músicas como “Todo prazer”, “A força do vento”, “Uma canção” e “Nuvem cigana”, servem tanto para curar velhas feridas como para embalsamar a alma. De fato, esse não é um disco para principiantes, não tem melodias fáceis e nem instrumentação simplória. Mas, quem tem bom gosto não precisa de maiores esclarecimentos, é só apertar o play e viajar, suba além da vegetação, aproveite bem as termas e deixe o vento se apresentar como o rumo. Lembre-se de não colocar cinto de segurança e esqueça completamente qualquer saída de emergência, você não precisar de nada disso.

Além de toda essa riqueza de composição, harmonia e melodia, ainda existe a genialidade de participações sempre geniais de Wagner Tiso, Toninho Horta e Flávio Venturini, responsáveis por texturas delicadas, arranjos inspirados e passagens memoráveis, como por exemplo, o solo de guitarra de Toninho Horta na instrumental “Vai, vai, vai”, capaz de provocar arrepios no mais sórdido forrozeiro de plantão. Realmente esse é um disco sobre nuvens.

Ficha Técnica


1- Todo Prazer (Lô Borges e Ronaldo Bastos).
Guitarra – Fernando Rodrigues, Lô Borges e Luis
Cláudio Venturini; piano – Telo Borges; sintetizador –
Flávio Venturini; bateria – Mário Castelo; baixo
elétrico – Paulinho Carvalho.

2- A Força Do Vento (Rogério Freitas). Guitarra –
Fernando Rodrigues, Lô Borges; piano elétrico – Telo
Borges; baixo – Paulinho Carvalho; percussão –
Robertinho Silva; bateria – Mário Castelo; percussão
– Aleuda; arranjador – Toninho Horta.

3- Vida Nova (Lô Borges e Murilo Antunes). Guitarra e
violão - Lô Borges; piano elétrico – Telo Borges;
baixo elétrico – Paulinho Carvalho; bateria – Mário
Castelo; guitarra e arranjo – Toninho Horta.

4- Vai, Vai, Vai (Lô Borges). Violão, vocal e viola de 12
cordas – Lô Borges; baixo elétrico – Paulinho
Carvalho; bateria – Robertinho Silva; caxixi, guitarra
e vocal – Toninho Horta.

5- Uma Canção (Lô Borges e Ronaldo Bastos). Violão
ovation – Lô Borges.
6- Nuvem Cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos).
Guitarra – Fernando Rodigues, Lô Borges; bateria e
pandeiro – Robertinho Silva; baixo elétrico –
Paulinho Carvalho; piano – Telo Borges; arp –
Wagner Tiso.

7- Ritatá (Telo Borges). Percussão – Aleuda e
Robertinho Silva; baixo elétrico e vocal – Paulinho
Carvalho; arp – Wagner Tiso; guitarra – Toninho
Horta; bateria – Mário Castelo; voz, vocal, arp e
piano – Telo Borges

8- Viver, Viver (Lô Borges, Márcio Borges e Murilo
Antunes). Bateria e Cuatro venezuelano – Beto
Guedes; percussão – Aleuda; arp e violão – Lô
Borges; voz – Milton Nascimento; baixo elétrico –
Paulinho Carvalho; piano – Telo Borges; percussão –
Robertinho Silva.

9- O Vento Não Me Levou (Lô Borges e Ronaldo
Bastos). Guitarra e arp – Lô Borges; arp – Flávio
Venturini; baixo elétrico – Paulinho Carvalho; bateria
– Robertinho Silva; percussão – Mário Castelo; piano
– Telo Borges

10- O Choro (Lô Borges). Violino – Alfredo Vidal,
Bernardo Bessler, Carlos Eduardo Hack, giancarlo
Pareschi, Walter Hack, Robert Eduard Jean Arnaud;
violoncelo – Jacques Morelenbaum, Jorge Kundert
Ranevsky (Iura); viola de arco – Arlindo Figueiredo
Penteado, José Dias de Lana; flauta – Mauro Senise,
Paulo Guimarães, Danilo Caymmi, Celso
Woltzenlongel; afoxé – Dazinho; ganzá – Fernando
Rodrigues; violão – Lô Borges; clarinete – Netinho;
piano – Telo Borges.

Produtor: Ronaldo Bastos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010








Históricos


Living in the material world
A música etérea de George Harrison


Em seu terceiro disco, após o término dos Beatles, George Harrison continuava apresentando ao mundo a sua devoção espiritual e sua intensa dose de humanismo, turbinada com harmonia simples, melodias inesquecíveis, musicalidade sutil e certeira, além de um trabalho de guitarra slide simplesmente encantador, com a força de um mantra.

Esse disco fecha o ciclo de sucesso absoluto da primeira fase da carreira solo do principal músico dos quatro fabulosos, após a separação histórica da banda mais popular do mundo. Depois de dois álbuns triplos extremamente respeitados pela crítica e venerados pelo público mundial – All things must pass e Concert for Bangladesh – George Harrison chega ao ponto máximo da sua celebrada simplicidade sofisticada, com Living in the material world. Além de rebuscar ainda mais a sua busca intensa nos mistérios do Oriente, via Índia e seus gurus, George mostra toda a sua habilidade com melodias, incríveis melodias.

Esse é um daqueles discos imperdoáveis, que marcam a sua vida nem que você não queira, basta dar ouvidos. O tempo não importa para essa obra monumental. Os inúmeros violões acústicos, as diversas cores de slide e guitarra havaiana, as texturas dos pianos, as levadas maneiras de baixo e bateria, além de uma verdadeira avalanche de melodias inebriantes, fazem de Living in the material world um passaporte para o paraíso.

A faixa de abertura, Give me Love (give me peace on earth), é uma música eterna, com uma camada de violões acústicos e um arranjo de guitarra slide que são de pura magia, de encantamento. Essa é uma das maiores composições de todos os tempos, exatamente pela simplicidade. Imperdível. Inestimável. Sue me, sue you blues, segunda faixa, segue a mesma linha, um pouco mais rockeira e com slide ao violão. Da mesma forma imperdível. As duas faixas tão o rumo da viagem espiritual do disco, voltado para o mergulho oriental, em busca do equilíbrio, da paz e do amor ao próximo.

The light that has lighted the world, terceira faixa, é uma balada introspectiva e espiritual, com mensagem reflexiva e melodia intensa, com destaque maior para as teclas. Don’t let me wait too long, quarta faixa, é uma daquelas levadas de violão acústico que pregam em seu ouvido e inundam a sua alma. Você canta essa música junto, sem saber a letra, guiado pela melodia que tem um poder de encanto especial. Mais trabalho especial de slide e mais delicadeza fenomenal.

Who can see it, quinta faixa, é outra balada espiritual, com direito a guitarra com modulação, que ora parece phase mutron e ora parece um flanger saturado. A faixa seguinte é a que dá título ao disco. É a que tem mais pegada de rock’n’roll. Conta com a participação especial de Ringo, dobrando a bateria com o também lendário Jim Keltner . A faixa é bem humurada, mas não deixa de ter a sua crítica aos hábitos consumistas. Tem belos solos de sax e slide.

The Lord loves the one (that loves the Lord), sétima faixa do disco mantém também a reflexão espiritual e mantém também o encantamento. Mais slide e mais melodia mágica. Essa é uma daquelas faixas que vai se infiltrando aos poucos em sua memória, para nunca mais sair. O trabalho de metais dessa música é também duradouro, resiste facilmente ao tempo. Be here now, oitava faixa do disco, é lenta e profunda, própria para ser ouvido com a alma. Existe nessa música uma camada de órgão impressionante.

Try some buy some, oitava faixa, é a que tem melodia mais próxima dos Beatles, acompanhada pela textura intensa de uma orquestra inteira. Grande momento do disco. The Day the world gets round, também traz acompanhamento envolvente de cordas e também tem seu foco voltado para a devoção. Essa é outra melodia registrada com a marca George Harrison. O disco termina de forma profunda e reflexiva com that’s all, única faixa em que a guitarra de George Harrison aparece de forma mais evidente.

Essa obra excepcional foi gravada em 1973, no estúdio da Apple, em Londres. Fizeram parte desse pergaminho Nick Hopkins e Gary Wright nos teclados; Klaus Vourmann no baixo; Jim Keltner na bateria, mais as participações de Ringo Starr e Jim Gordom; George Harrison nas guitarras e violões; Jim Horn no sax e flauta; e Zakir Hussein nas tablas. As cordas foram conduzidas por John Barham. Em 2006 e EMI lançou uma versão remasterizada desse disco, com duas faixas bônus. Não perca tempo, embarque imediatamente nessa viagem astral.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009



Clássicos

A música inquieta de James Blood Ulmer em
Are you glad to be in America
No início dos anos 80 um disco surpreendente sacudiu as bases do rock , do jazz, do funk e da cena punk. “Are you glad to be in America” é uma daquelas raridades eternas, que não envelhece com o passar dos tempos e dos modismos. James Blood Ulmer é um artista singular, com uma carreira de muitas produções e muitas facetas. Uma delas é essa liberdade sonora apresentada nesse objeto voador alucinado.

James Blood Ulmer apareceu para a música através do jazz e do soul, tocando sua guitarra semi-acústica de forma inusitada. Entre vários artistas dessa época, início dos anos 60, ele desenvolveu um trabalho significativo ao lado de Art Blakey e Joe Henderson, mas foi com Ornett Coleman que ele definiu sua pegada e sua visão musical. Era o período das vanguardas e das fusões dentro do jazz. Esses sotaques e tendências foram apresentadas por Ornette Coleman a James Blood Ulmer, que passeou por elas até chegar ao blues, estilo atual desse lisérgico guitarrista da Carolina do Sul.

James Blood Ulmer formou vários grupos, fez discos solos e participou em discos de uma pá de artistas. Sua discografia é longa e dividida entre o experimentalismo e a música de raiz. Na sua fase mais inquieta é possível encontrar facilmente a genialidade desse guitarrista negro, que tem estilo próprio e um som original, sem cópias e sem enganações de clichês prostituídos. Sua fase experimental não é para qualquer ouvido. É preciso ter cultura musical para entender e aceitar seus vôos rasantes e suas manobras vertiginosas.

Fora os seus discos solos, vale a pena conferir suas bandas revolucionárias: Music Revelation Ensemble com David Murray and Ronald Shannon Jackson; Phalanx, com o excepcional saxofonista George Adams; e a sensacional banda Odyssey, com o baterista Warren Benbow e o violinista Charles Burnham. Seus últimos três discos têm uma pegada de blues do Delta, sendo que o último Bad Blood in the City: The Piety Street Sessions (Hyena, 2007), foi produzido por Vernon Reid, guitarrista do Living Colour. Esse disco ganhou prêmios e foi considerado pela crítica como um dos melhores de todos os tempos. Mesmo assim James Blood Ulmer ainda se mantém à margem do grande esquema.

Are you glad to be in America é irônico e sarcástico o tanto quanto o título sugere. Nesse disco e em outros da mesma época, como Revealing (1977); Tales of Captain Black (1978); Freelancing (1981) e Black Rock (Columbia, 1982), James Blood Ulmer mistura free-jazz , rock , minimalismo, blues , soul, funk e música tribal numa só pegada alucinada de improvisação geral em estúdio. O clima é de música atonal, notas soltas e improvisações viscerais a partir de uma célula musical que se repete o tempo inteiro em diversas texturas.

Duas músicas são cantadas: jazz is the teacher (funk is the preacher) e a faixa título. As frases da guitarra de James Blood Ulmer soam descontínuas e fragmentadas, com timbre gordo , captadores duplos ligados no talo, sem aquela frescura de um chorus limpo , ligado em um combo poyitone, de som bem limpo e educado. Porra nenhuma disso. O som é cru e sem perdão. As escalas usadas pelo louco da Carolina do Sul são exóticas e ao mesmo tempo modais e pentatônicas. Ele não pensa em escalas quando toca, simplesmente mete a mão. Por isso fez sucesso na cena punk, só que ele sabe tocar e os sujinhos não.

Algumas das faixas mais piradas do jazz alternativo estão aqui nessa obra de valor inestimável. James Blood Ulmer juntou David Murray, no sax tenor; Oliver Lake, no sax alto; Olu Dara, no trompete; Amim Ali, no baixo ; e os bateristas Calvin Weston e Ronald Shannon e produziu o som mais tosco que uma banda de jazz pode tocar. Suas linhas progressivas de frases, que se repetem em contra-ponto ou simultâneas, parecem ter sido gravadas através de grandes compressores, que deixam tudo muito na cara, sem alternativas para o ouvinte, a não ser mergulhar de cabeça nessa lisergia geral. Escute qualquer faixa desse disco e sua vida de ouvinte não será mais a mesma, muito menos a sua concepção de guitarra.